Em um comunicado, jogadoras da venezuelanas denunciaram o técnico Kenneth Zseremeta por “abusos físicos, psicológicos e sexuais”. Deyna Castellanos, Lourdes Moreno, Gabriela García, entre outros representantes da equipe Vinotinto tornaram pública as acusações contra o treinador.

Demitido em 2017 pela federação venezuelana, a qual não explicou os motivos da saída do treinador na época. Natural do Panamá, o técnico tem o nome ventilado para dirigir a seleção feminina sub-17 do Equador.

“No ano passado (2020) uma de nós nos confessou que havia sofrido abusos sexuais desde os 14 anos (2014) pelo técnico Kenneth Zseremeta. Esse abuso durou até a sua demissão (2017)”, diz parte do texto.

Com o pedido de respeito à privacidade, as jogadoras que afirmam ter sido vítimas de Kenneth disseram que não farão mais comentários sobre o caso.

Kenneth dirigiu a seleção Sub-17 da Venezuela e classificou a equipe para três Copas do Mundo da categoria (2010, 2013 e 2016), conquistou o ouro nos Jogos da América Central e do Caribe (2010), além do segundo lugar nos Jogos Bolivarianos de 2009 (Leia o comunicado na íntegra abaixo).

Estupro e Assédio Secual na seleção da venezuela shaker Kenneth Zseremeta

Nós, as jogadoras da seleção venezuelana de diferentes processos, decidimos quebrar o silêncio para evitar que as situações de abuso e assédio físico, psicológico e sexual provocadas pelo técnico de futebol Kenneth Zserementa façam mais vítimas no futebol feminino e no mundo.

Desde 2013 até 207 surgiram numerosos casos ao redor da figura do treinador Zseremeta, os mais comuns eram abuso físico e psicológico durante os treinamentos, Muitas de nós seguimos com traumas e feridas mentais que nos acompanham em nosso dia a dia.

Mesmo que soe como uma loucura para nós era normal que nosso treinador opinava, comentava e nos perguntava sobre nossa sexualidade intimidade, mesmo nós sendo menores de idade. Muitas destas situações eram apoiadas por membros da comissão técnica. Hoje entendemos que estas ações tinham a intenção de nos manipular e nos sentir culpadas. As jogadoras da comunidade LGBTQI+ eram constantemente questionadas por sua orientação sexual e o assédio as jogadoras heterossexuais era constante. Existiam ameaças e manipulações para dizer aos pais das jogadoras sobre sua orientação sexual elas não tivessem disciplina ou desempenho como deveriam. As insinuações sexuais eram temas do dia a dia bem como os comentários sobre a atratividade física de muitos de nossos jogadores.

Muita gente poderia pensar o porque nos demoramos tanto para dizer isto [denúncia], não foi nada fácil para nós este processo, mas atualmente temos entendido que como vítimas de abuso é importante levantar a voz, por defender a honra de nossa companheira e para que uma pessoa assim jamais tenha o poder de fazer este dano a outra menina ou mulher.

Nós pedimos respeito à nossa privacidade, não vamos fazer mais comentários a respeito deste tema. Saber que a maioria de nós esteve desde os 13-14 anos pensando que um manipulador era a pessoa que queria nos “ajudar” em nossas carreiras foi um golpes muito forte

Nossa companheira hoje está em um melhor lugar mental e fisicamente, apesar de todo o trauma que esta pessoa [ex-treinador] causou em sua vida, ela buscou a ajuda necessária para poder seguir a sua vida da melhor maneira, sendo uma sobrevivente de um monstro que não só abusava dela sexualmente. Emocionalmente vivia um constante assedio em que ela preferia não ser mais convocada e Zserementa a visitava na casa de seus pais para os manipular, aproveitando das dificuldades financeiras dela e da sua família. Estar na seleção se converteu no sustento da sua casa em muitas ocasiões. Isso durou muitos anos.

Hoje sabemos que todos os nosso êxitos foram graças ao nosso talento, esforço e perseverança, bem como todos aqueles que virão com diferentes treinadores. Hoje estamos mais unidas que nunca aceitando as feridas que ele nos deixou no passado e abraçando um presente melhor.

Não só vivíamos isso [abusos], tanto no nível executivo como na comissão técnica, havia também essas situações em que ele nos manipulava para que pensássemos que todos ao nosso redor eram pessoas más e que só ele era quem tinha razão. Era um conflito constante por causa de seu pouco profissionalismo e mitomania [mentiroso]. Infelizmente os resultados gerados pelo nosso talento o mantiveram em uma boa posição. Nunca sentimos que tínhamos as ferramentas para falar e receber apoio porque a influência e o poder dessa pessoa em nossas vidas eram autoritários.

Sabemos que um grupo de jogadoras o apoiou no momento da sua demissão, as quais estavam sob a sua manipulação para continuarem a gerar problemas em torno da sua demissão. Hoje a maioria dessas jogadoras não tem relação com o ex-treinador.

No ano passado (2020), uma de nossas colegas nos confessou que foi abusada sexualmente desde os 14 anos (2014) pelo técnico Kenneth. Esse abuso durou até que ele foi demitido. Seu cúmplice em tudo isso é Williams Pino. Esta é uma notícia que para todos nós têm sido muito difícil de assimilar, a ponto de muitas de nós se sentirem culpadas por ter estado tão perto de tudo isso e não ter percebido algo tão sério e punível. Ao mesmo tempo, a confissão não nos surpreendeu porque era esse o ambiente que o treinador cultivava todos os dias.

Como grupo, temos procurado soluções diferentes para podermos fazer uma reclamação legal, mas por diferentes razões, tem sido muito difícil para nós. Por esse motivo, decidimos omitir o nome da nossa companheira, para respeitar a sua privacidade e principalmente o enquadramento legal desta reclamação. Como resultado dessa confissão, diversas outras expressaram experiências de assédio, tanto por telefone, com perguntas e convites inadequados, subornos para ficar dentro da seleção, presentes fora de contexto, massagens e diferentes situações que definitivamente não eram normais e que nós não compreendíamos.

Pedimos a todas as autoridades pertinentes como: Fifa, Confederações, Federações e Ligas que não permitam que este treinador siga convivendo dentro do futebol feminino. Como jogadoras, não nos calaremos mais, mas necessitamos de apoio de todas as instituições para proteger a jogadoras de futebol a nível mundial e criar uma cultura na qual nós podemos estar a salvo. Sabemos que há muitas jogadoras de diferentes equipes, seleções e clubes que passaram por casos similares às nossas. A todas elas nós mandamos nossa solidariedade. Juntas podemos mudar o rumo do futebol feminino e juntas podemos nos proteger umas as outras.

Sem mais o que adicionar,

Jogadoras da Seleção da Venezuela

Lourdes Moreno, Deyna Castellanos, Gabriela Garcia, Maria Gabriela Garcia, Hilary Vergara, Sandra Luzardo, Michelle Romero, Fatima Lobo, Franyely Rodrigues, Nikol Gonzalez,Camila Pescatores, Daniuska Rodriguez, Yuliana Caile, Alexandra Canaguacan, Genesis Flores, Alexa Castro, Yohanli Mujica, Barbara Serrano, Tahicelis Marcano, Heliamar Alvarado, Yailyn Medina, Nathalie Pasquel, Icéis Briceño, Dayana Rodriguez