A classificação das meninas, nesta sexta-feira (6), do vôlei para a final contra os Estados Unidos garantiu a vigésima medalha ao Brasil, recorde em uma única edição de Olimpíada. Além do vôlei, o Brasil ainda pode superar a performance histórica com outras modalidades.

Entretanto, se atualmente o Brasil evolui a cada participação, garantir uma medalha há alguns anos não era tão corriqueiro, ainda mais no lugar mais alto do pódio. Por isso, a conquista de Joaquim Cruz nos 800m nos Jogos Olímpicos de 1984 pode ser considerado um feito heroico.

Para se ter uma ideia do tamanho da façanha do brasileiro, o tempo de 1min43s na final da competição garantiria o ouro para Cruz em seis das últimas nove edições dos Jogos Olímpicos (veja no vídeo abaixo).

Joaquim ainda conquistou nos 800m a medalha de prata nos Jogos de Seul em 1988. Em seu instagram, o ex-atleta publicou um depoimento sobre aquele 6 de agosto de 1984.

Leia o depoimento completo:

“Na noite anterior a final, o Luiz me levou para tomar uma massagem. No carro tocava uma música romântica do Billy Joe. O meu pensamento distanciou-se. Encostei a minha cabeça na janela do carro e foi então que me distrair com uma estrela brilhando entre as nuvens no céu semi nublado de Los Angeles. “A minha estrela irá brilhar!” Pensei comigo com arrepios no corpo. Luiz interrompeu o silêncio. “Juca, o que você acha que vai acontecer amanhã na corrida?” Cochichamos sobre duas possibilidades de táticas de corridas. Gravei-as na mente.

No dia seguinte acordei com o corpo consumido por uma sensação forte e difícil de controlar. Havia acabado de levantar e já sentia a necessidade de me isolar, tentar domar os meus dragões desconhecidos e poupar a energia.
Saímos cedo para pegar o ônibus. Na ida para o Coliseu o trânsito estava extremamente engarrafamento. Olhei para o Luiz com a esperança de uma reação acolhedora e tranquilizante, mas o que vi foi um rosto sofrido com a aparência da arte “O Grito” de Edvard Munch. Evitei olhar para ele. Tentei explorar a possibilidade de não chegar a tempo para a final. A mente rejeitou o pensamento de imediato. Cheguei a tempo para o aquecimento. Com o corpo e mente sincronizados, parti para o estádio para o aquecimento final com os outros atletas finalistas antes de entrarmos na pista. Ao me encontrar com os atletas o meu corpo foi consumido por uma energia divina indescritível. Naquele instante eu pude entender o que estava preste a acontecer. O Luiz se encontrava do lado de fora da cerca. Dividimos um aperto de mãos como sempre fazíamos antes das corridas. Olhei nos olhos dele para tentar transmitir conforto e autoconfiança.

Quando eu era garoto eu sonhava em ser alguém na vida. Descobri o esporte e o esporte me descobriu. Conheci um professor de educação física, que disse que eu poderia sonhar mais longe. Juntos decidimos explorar os nossos sonhos num mundo desconhecido. Através do esporte tivemos uma experiência extraordinária com as nossas vidas.
O resultado final na olimpíada de 1984 foi o início de uma jornada de 22 anos com muitas memórias maravilhosas.”

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