João Roberto Marinho, dono da Globo, fala sobre relação com Lula, Bolsonaro e Dilma

O presidente do Grupo Globo deu seu depoimento em O Século do Globo, documentário que marca o centenário do jornal O Globo

João Roberto Marinho, dono da Globo
João Roberto Marinho, dono da Globo Foto: Foto: Reprodução/TV Globo

João Roberto Marinho, presidente do Conselho Editorial e do Grupo Globo, deu um depoimento no quarto e último episódio do documentário ‘O Século do Globo’, exibido pela emissora na última sexta-feira, 11, em comemoração aos 100 anos do jornal O Globo. Filho do meio de Roberto Marinho (1904–2003), João Roberto analisou a relação da TV Globo com os últimos quatro presidentes da República do Brasil: Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.

“Quando nós fizemos a cobertura da Lava Jato, o diálogo não foi cortado. Eu estive com o presidente pelo menos uma vez, que eu me lembre — talvez mais de uma vez. No processo da Lava Jato, ele reclamava muito da cobertura, mas a relação se mantinha. Nós fizemos uma cobertura dura, evidentemente, porque o assunto justificava”, declarou o empresário e jornalista.

“A relação sempre foi muito boa, com divergências e concordâncias. Ele sempre foi muito republicano, vamos dizer assim, na relação. Nunca tivemos um problema maior. Havia questões políticas e tal, lá no primeiro governo. Havia um discurso de que era preciso regular a mídia, regular as televisões. E foi um momento de embate forte, porque eles queriam apostar em alguma coisa que ajudasse a controlar a mídia. Isso, visivelmente, provocou uma divergência”, contou João Roberto.

“A relação era boa. A relação era boa. Ela era difícil, uma pessoa difícil, mas a gente tinha uma relação bastante boa. Mas ela era sempre muito correta, assim, independente de se irritar com críticas e tal”, afirmou ele.

Pedro Bial, diretor do documentário, questionou se era verdadeira a história que circula de que João Roberto teria procurado o então ex-presidente Lula e sugerido que ele concorresse às eleições de 2014, evitando que Dilma buscasse a reeleição.

“Não, não, nunca houve isso. Isso, assim, não estaria em mim essa atitude. Eu sei que existe essa história, mas eu nunca fiz isso. Me surpreendeu ali, como ele não foi capaz de controlar a presidente Dilma e ele ser o candidato, que era o plano inicial. E ele perdeu o controle ali da situação. Isso me surpreendeu. Eu acho que surpreendeu a todos nós naquele momento”, comentou o herdeiro da Globo.

“O presidente Temer estava fazendo uma excelente presidência e fez um governo reformista muito bem articulado, com um programa muito bem definido”, elogiou.

“Eu considero que, realmente, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot manipulou ali, deu mais dramaticidade à gravação na qual Temer supostamente negociava um esquema de corrupção. Mas, tirando isso, ouvindo a gravação, eu achei ela bem complicada para o presidente”, lembrou Marinho.

“A nossa percepção é que, a partir daquele episódio, a autoridade dele estava comprometida, que a melhor coisa que podia acontecer era ele renunciar, responder ali ao que fosse naquele assunto e o governo seguir”, disse.

“A nossa cobertura era até simpática à economia do governo dele, às propostas ali do ministro Paulo Guedes. A gente apoiou várias iniciativas na economia, mas foi um período muito duro. Nunca imaginamos passar por isso, pelo nível de coisas que aconteceram”, revelou João Roberto Marinho.

“O que o Bolsonaro fez com uma das nossas jornalistas Miriam Leitão, que tinha sido presa, torturada na época da ditadura… O que ele fez com ela, debochando desse momento da vida dela e tal, foi uma coisa assim, completamente inaceitável e que mostra uma desumanidade da parte dele. Assim, é uma pessoa que fico pensando: nossa, que pessoa é essa?”, criticou, a respeito do episódio em que Jair Bolsonaro disse que tinha pena da cobra que foi colocada no quarto em que Miriam, grávida, foi presa em plena ditadura.