O compositor e cantor João Gilberto, o mais genial violão do Brasil de todos os tempos (e isso em um País que teve, entre outros, Canhoto e Baden Powell), morreu em julho de 2019. Zuza Homem de Mello, o maior estudioso, pesquisador e produtor da música popular brasileira (era desafinado, mas tinha ouvidos que distinguiam nuanças melódicas que ninguém alcançava), partiu em outubro desse ano que chega ao fim. 2021 trará, no entanto, uma obra-prima de Zuza sobre João Gilberto — em forma de livro.

Trata-se da biografia que Zuza deixou pronta (será editada pela Companha das Letras). Em um dos trechos do livro, o autor conta que ouviu João Gilberto pela primeira vez por meio do rádio de seu carro. Corria o ano de 1959, o Dodge era de 1951, e a originalidade da batida do violão de João Gilberto já prometia se eternizar. Perplexo, Zuza estacionou o carro para ouvir melhor. A mesma perplexidade tomou conta de toda uma geração: estava criada a bossa nova. A obra é leitura obrigatória para os amantes da MPB.

Para se ter uma ideia exata da genialidade e criatividade do baiano de Juazeiro no violão, vale lembrar aqui uma história, contada certa vez por Danilo Caymmi, também ele exímio violonista: houve época em que Dorival Caymmi, Baden Powell e o próprio Danilo se reuniam para (cada um com seu violão) decifrar a mágica de João. Danilo deixa claro que jamais conseguiram.

Isso importa? Não. O que conta é que Zuza está nos dando um tesouro — e, como sempre fez em vida, enriquece a nossa cultura musical.