A gente um é povinho besta mesmo, não é?
Um povo que acredita em qualquer bobagem.
Não é a toa isso.
Deve ser uma defesa que desenvolvemos ao longo da evolução da espécie para sobreviver a tanta roubalheira, tanto sofrimento, tanta falta de esperança.
Então a gente compensa acreditando em qualquer história que nos contarem.
Se sair no Fantástico, então, melhor.
Pense na quantidade de gente que passou a perna na gente exatamente se valendo de story telling, para usar a expressão da moda, nos últimos, digamos, dez anos.
Pense na quantidade de dinheiro que roubaram de baixo de nossas fuças, sempre com uma boa desculpa que engolimos felizes.
E não é só de políticos que vive nosso bolso e alma vazios.
A gente acredita em qualquer Zé Mané com uma boa lábia.
Bem a gente que se acha muito esperto.
Pastores extorquem com maquininhas de cartão de crédito nos cultos, nas televisões, em rede nacional.
Um médico especializado em estupros violenta mais de 50 pacientes na sua clínica.
Padres pedófilos, políticos ladrões, espiritualistas canalhas, curandeiros, mentirosos, malandros e golpistas.
Qualquer um que queira se dar bem nesse País, é só empreender.
Devolvo o amor perdido em sete dias, pague só depois de reatar.
E a gente acredita.
Na semana passada mais dois exemplos grotescos dessa nossa vocação por ser enganado.
Durante anos João de Deus assediou mulheres que o procuravam.
Mais de 300 denúncias de assédio e ainda há quem defenda que o sujeito está sendo perseguido.
A gente quer acreditar.
A gente é brasileiro e não desiste nunca de crer no incrível.
São narrativas tristes que se misturam à nossa esperança.
Na mesma semana, a ministra dos Direitos Humanos cuja história de vida só merece nossa empatia e compaixão, aparece num vídeo contando quando Jesus apareceu para ela num pé de goiaba.
Seria apenas mais uma história triste, de uma brasileira sofrida que encontrou na religião o suporte emocional que necessitava.
Seria só mais um caso de crença, de fé, se não escondesse por trás a temerária consequência de nossa crença nas lendas.
Nossa forma de pensar baseada no pensamento mágico.
Ocorre que Mulher, Família e Direitos Humanos, são assuntos sérios demais para se lidar pela régua da crença ou na fé como solução.
Ao invés do necessário pragmatismo, temos lá uma ministra sem experiência nenhuma na área, capaz de sugerir uma atrocidade como o Bolsa-Estupro, que reduz a questão do aborto em caso de violência a uma questão financeira.
Em certa medida, graças a nossa atávica capacidade de acreditar, Roger Abdelmassih, João de Deus e o Bolsa-Estupro são os braços pervertidos da nossa esperança.
São três momentos do ciclo de crença e decepção que não conseguimos escapar.
Acreditar, desmascarar, punir, acreditar…e assim passamos de um engano para outro.
A gente engole porque acredita em mito.
Falar em mito, semana passada trouxe também o dinheiro suspeito nas contas da família Bolsonaro e assessores.
Mais um mito.
Não vai dar em nada, porque vai aparecer, é claro, uma narrativa para a gente engolir.
Como engolimos 13 anos do mito petista.
A gente é assim e se orgulha de nossa boa fé.
A gente acredita e sempre vai ser assim, porque em pé de goiaba não dá jabuticaba.

Acreditar, desmascarar, punir, acreditar…
e assim passamos de um engano para outro. 
A gente engole porque acredita em mito