O prefeito de Recife, João Campos, disse neste domingo, 7, que cidades em países como o Brasil vivem hoje o “retrato da desigualdade”, o que fica ainda mais evidente em eventos climáticos. O cenário, afirma ele, exige atenção do poder público. “Não é razoável que, em uma cidade que uma pessoa não durma tranquila em dia de chuva, a gente não priorize isso”, disse.

João Campos participou da 10ª edição da Brazil Conference, realizada em Harvard e no MIT pela comunidade de estudantes brasileiros nas duas instituições. Joana Guimarães, reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia, e Bruno Carvalho, professor de Harvard, também estavam na mesa redonda, com transmissão ao vivo pelo Youtube.

Na conversa, eles discutiram quais os principais desafios a serem enfrentados em decorrência das mudanças climáticas. O trio debateu ainda quais inovações e estratégias podem transformar as cidades em espaços resilientes frente às consequências do aquecimento global. No ano passado, Pernambuco chegou a decretar estado de emergência em ao menos 12 cidades após fortes chuvas.

“Acho que a gente vive um século das cidades. Todos os países, cada um a seu modo, a seu ritmo, viveu um período de deslocamento das pessoas para os centros urbanos. Quem conseguiu isso de forma organizada construiu centros urbanos mais harmônicos, mais democráticos”, disse Campos.

“Mas sobretudo em países como o Brasil, acho que as cidades vivem retrato da desigualdade. E quando a gente fala de mudança climática, sobretudo nas cidades brasileiras, essa mudança climática tem um impacto direto no CPF, no CEP e na localidade mais vulnerável de cada cidade”, acrescentou.

Diante desse contexto, Campos ressaltou que sua gestão tem buscado adotar medidas que protejam as comunidades no Recife, considerada a cidade mais vulnerável do Brasil ao aumento do nível do mar. Uma dessas medidas, destacou, é a execução de um plano de investimento urbano resiliência urbana para a cidade, em que 100% dos recursos estão sendo alocados em áreas periféricas.

Os especialistas presentes ressaltaram ainda a importância de as cidades pensarem as medidas em conjunto. Recife, por exemplo, corresponde a apenas cerca de 40% da região metropolitana em que está inserida. A interlocução com cidades vizinhas, portanto, é fundamental.

“Não posso chegar numa rua, ou chegar num bairro, e fazer todo o investimento em saneamento, porque se aquela água está vindo de um bairro vizinho que não faz saneamento, não adianta nada. Vai correr todo o esgoto, todo o lixo para esse local que acabou de ser feito o saneamento”, disse Joana Guimarães. “Não se pode pensar isoladamente.”

Realizado na Universidade Harvard e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge, a Brazil Conference contou com a presença de governadores, ministros de Estado e outras autoridades para debater assuntos como política, meio ambiente e educação.

Organizada pela comunidade brasileira de estudantes das duas universidades, a conferência tem parceria do Estadão, que fez a cobertura e a transmissão ao vivo das mesas principais. Além de lideranças políticas, o evento reuniu dezenas de artistas, empresários, ativistas, pesquisadores, influenciadores e lideranças comunitárias que pensam o futuro do Brasil.

Mais cedo, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, defendeu que haja uma participação histórica dos povos indígenas na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, cuja edição de 2025 será realizada no Pará.

“No Ministério dos Povos Indígenas, estamos organizando um chamado público. Nós vamos chamar lideranças jovens indígenas para uma formação da diplomacia indígena, fazendo uma incidência direta com os negociadores”, disse ela, ao destacar a importância de mobilizações no âmbito nacional e internacional.