Relicário é um projeto do Selo Sesc de resgate dos áudios de shows históricos realizados em unidades do Sesc em São Paulo nas décadas de 1970, 1980 e 1990, remasterizados e formatados como álbuns digitais. Depois de João Gilberto (ao vivo no Sesc 1998), lançado em abril, e Zélia Duncan (ao vivo no Sesc 1997), lançado em junho, João Bosco (ao vivo no Sesc 1978) foi lançado no dia 16 de agosto com exclusividade no Sesc Digital.

Para melhor contextualizar a época e o registro deste show de 1978, acontecerá no dia 23 de agosto, quarta-feira, às 20h, um bate-papo musicado com João Bosco no Sesc Consolação mediado pela jornalista e apresentadora Adriana Couto (Metrópolis, Rádio Nova Brasil FM), quando o músico poderá compartilhar e comentar algumas músicas com a plateia. Além disso, no mesmo dia, o álbum será disponibilizado nas principais plataformas de áudio.

O disco é baseado em um show gravado há 45 anos no teatro do Sesc Consolação, onde por 12 noites, de quinta a domingo, João, à época com 31 anos, desfilou um repertório dividido em quatro blocos temáticos, com “músicas que denunciavam as injustiças sociais e as mazelas políticas do Brasil, mas também as que retratavam com lirismo e humor as alegrias e as desventuras dos mais diferentes tipos do subúrbio carioca. Um repertório permeado pela força percussiva e pela musicalidade barroca”, como escreve a jornalista Kamille Viola em texto de apresentação do disco para o projeto Relicário.

Ou, como explica o próprio João, “momentos que nos remetem ao universo de uma África local, que é o samba, o jongo, o afro-samba e afins. Porque essas coisas têm nomes diferentes, mas pertencem ao mesmo universo”. Bolero, choro, jazz e até uma marcha-rancho se somam a esse rol de ritmos, que frequentemente se misturam.

O resultado presente nas 17 faixas de João Bosco (ao vivo no Sesc 1978) é, segundo o  escritor Francisco Bosco, filho de João, “um afresco em que se pode ver tanto personagens das classes populares em meio à violência urbana (“De frente pro crime”, “Tiro de misericórdia” – canções fruto de sua parceria com Aldir Blanc) ao explícito estado de exceção da ditadura (“Caça à raposa”), e à pobreza econômica, “onde tantos iguais se reúnem contando mentiras pra poder suportar”, revelando uma fase bastante combativa na carreira do artista em face dos acontecimentos políticos da época, ainda sob o regime ditatorial (a lei da Anistia seria promulgada no ano seguinte).

Além destas, traz outras parcerias com Blanc, como  “Plataforma”,  “Dois pra lá dois pra cá” e “O rancho da Goiabada” (sucessos também na voz de Elis Regina), “uma homenagem ao abajur lilás”, segundo o próprio João  em ”Latin Lover” e o clássico samba “Kid Cavaquinho” ´(´Oi que foi só pegar no cavaquinho / Pra nego bater / Mas se eu contar o que é que pode um cavaquinho / Os home não vai crer / Quando ele fere, fere firme / E dói que nem punhal /Quando ele invoca até parece / Um pega na geral´) memorável .

“Eu estava escutando um João Bosco do qual eu já não me lembrava. Junto dele, vieram as ideias dessa época. E, de certa maneira, me deixou muito contente, porque esse João Bosco confirma o de hoje”, conta o artista, se referindo às memórias daqueles dias entre março e abril de 1978.

Mais do que relembrar as músicas de seus quatro discos até então, João também faz referência a amigos que já se foram, como o parceiro Aldir Blanc (1946-2020) e o poeta e compositor Paulo Emílio (1941-1990), que substituiu Aldir na função de diretor do espetáculo quando o mesmo parou de andar de avião. É dos dois o texto de “Agnus Sei”, feito especialmente para a apresentação. “De uma certa maneira, ouvir esse show me trouxe também essas pessoas, que me são muito caras. E vê-las atuando comigo foi muito bonito. Essa questão da memória nos mostra o quanto é importante registrá-la”, diz.

O espaço onde tudo aconteceu também marcou (e marca) época. Construído no segundo andar do Sesc Consolação, o Teatro foi inaugurado em setembro de 1977 para abrigar o Projeto Pixinguinha, idealizado por Hermínio Bello de Carvalho, primeira ação da Funarte de grande visibilidade nacional para promover a circulação de shows de música brasileira. Hoje palco das mais variadas linguagens artísticas, será cenário mais uma vez deste reencontro de João consigo e seu público.

O projeto

Relicário é um projeto do Selo Sesc de resgate dos áudios de shows históricos realizados em unidades do Sesc em São Paulo nas décadas de 1970, 1980 e 1990, remasterizados e formatados como álbuns digitais. A série também oferece o contexto histórico de cada registro, através de textos, vídeos, fotografias e material iconográfico com folhetos, cartazes e notícias jornalísticas veiculadas na época, que poderão ser acessados pelo público, de forma gratuita no site sescsp.org.br/relicario .

A estreia do projeto aconteceu em abril com o álbum Relicário: João Gilberto (ao vivo no Sesc 1998). Em junho foi a vez do álbum digital Relicário: Zélia Duncan (ao vivo no Sesc 1997). 

Lista de músicas:

 

1.    Gênesis

2.              Boi

3.              Escadas da Penha

4.              Latin Lover

5.              Vaso ruim não quebra

6.              O cavaleiro e os moinhos

7.              Casa de marimbondo

8.              Dois pra lá, dois pra cá

9.              Bijuterias

10.          O rancho da goiabada

11.          Agnus sei

12.          Kid Cavaquinho

13.          De frente pro crime

14.          Incompatibilidade de gênios

15.          Plataforma

16.          Caça à raposa

17.          Tiro de misericórdia

 

Voz e violão: João Bosco

Fender Rhodes, arp strings e arranjos: Darcy de Paulo

Baixo: Nilson Matta

Bateria: Everaldo Ferreira

Percussão: Chacal e Moura

 

Gravado em 23 de abril de 1978 no Teatro Pixinguinha do Sesc Consolação
Relicário: João Bosco (ao vivo no Sesc 1978)

A partir de 16 de agosto com exclusividade no Sesc Digital e no dia 23 de agosto disponível nas plataformas de streaming

 

Bate-papo de lançamento do álbum Relicário: João Bosco (ao vivo no Sesc 1978)

Com Adriana Couto (Didi) e João Bosco

23 de agosto, às 20h. Teatro Anchieta

Sesc Consolação

Entrada gratuita

Os ingressos serão disponibilizados gratuitamente ao público no dia 15 de agosto, a partir das 17h, pelo portal do Sesc SP ou no aplicativo Credencial Sesc e nas bilheterias das unidades da rede Sesc São Paulo, 16 de agosto, a partir das 17h.