Em 2017, o escritor norueguês Jo Nesbo confessou ao New York Times não ter paciência para terminar livros. “Só acabei ‘O alquimista’, de Paulo Coelho porque era curto”, disse à coluna “By the Book” do jornal. Não tem ânimo nem mesmo em relação a seus autores favoritos, como Ernest Hemingway, Charles Bukowski e Jim Thompson (1906-1977), um ficcionista de “pulp” relegado ao esquecimento, mas que ele enaltece acima de tudo. São três mestres da narrativa e da cozinha. “Gostaria de convidar o trio para jantar, até porque não sei cozinhar”, afirma.

Nesbo deve ter aprendido pelo menos uma lição com as obras que não leu até o fim: jamais entediar o leitor e assim prendê-lo às páginas de seus livros até o último desenlace. Nos 24 grossos volumes que lançou desde 1997, deixou o leitor eletrizado com narrativas repletas de frases curtas e cenas violentas, povoadas por detetives marcantes e alguns dos piores vilões da literatura. Tornou-se o campeão de vendas em um gênero competitivo: vendeu 40 milhões de exemplares mundialmente, 150 mil no Brasil. Dois romances acabam de sair em lançamentos da editora Record: “O filho” e “Macbeth”. Como sempre, lágrimas, sangue e inteligência gotejam de suas páginas.

FILME “Boneco de neve” (2017),
com Michael Fassbender no papel do personagem mais popular de Nesbo,
o detetive Harry Hole (Crédito:Divulgação)

Muito do seu estilo vem da inquietação que o levou a mudar de carreira. Nasceu em Oslo em 29 de março de 1960. Na infância, escolheu a carreira de jogador de futebol. Foi obrigado a desistir dela após uma contusão. Formou-se em Economia, mas viu que não dava para aquilo. Aprendeu baixo e fundou uma banda de rock, Di Derre. Excursionou pela Europa, gravou dois discos… “e, de repente, éramos pop stars”. Numa viagem entre Noruega e Austrália com a banda, descobriu a veia literária e escreveu o primeiro livro nas 30 horas de voo: “O morcego”, a primeira aventura de Harry Hole, o policial de Oslo, mulherengo e alcoólatra, mas capaz de decifrar mistérios ao equilibrar ação e dedução, como Sherlock Holmes.

“Escrevi o livro com raiva da história”, diz Nesbo, em sua autobiografia. O público não foi dessa opinião. Hole se tornou um dos personagens favoritos de leitores e escritores, como o americano Michael Connelly. “Jo Nesbo é meu novo autor favorito de suspense e Harry Hole, meu herói”, afirma. Hole chegou ao cinema, com o filme “Boneco de neve”, de 2017.

Para não se prender a um só personagem, construiu outros. É o caso de Sonny Lofthus, protagonista de “O filho”, uma espécie de santo preso injustamente que usa a estadia no presídio para descobrir o assassino do pai. O policial Macbeth surgiu de uma encomenda.

A editora londrina Hogarth convidou autores de renome para narrar obras de Shakespeare. Nesbo escolheu a peça mais violenta — e curta — do Bardo: “Macbeth”.

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Apesar de usar os nomes dos personagens, transpôs a conspiração do regicida escocês para a periferia de Glasgow nos anos 1970. Em meio à pobreza e à violência, uma gangue de traficantes entra em confronto com a força policial. O mais talentoso é Macbeth, chefe do Grupo de Operações Especiais. É um ex-drogado paranoico, faminto de poder e apaixonado pela mulher, Lady. Aos socos, caçadas e tiros, cadáveres se amontoam sem controle, salvo o do narrador, hábil manipulador de iscas. “Só há duas coisas sobre as quais vale a pena escrever: assassinato e amor“, diz Nesbo. Eis a sua fórmula.

 


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