Jimmy Kimmel volta à TV após suspensão e ataca governo Trump

LOS ANGELES, 24 SET (ANSA) – O apresentador Jimmy Kimmel voltou à televisão americana na noite da última terça-feira (23), após uma semana da suspensão de seu talk show imposta pela emissora ABC, e criticou o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.   

No centro de um acalorado debate sobre a liberdade de expressão no território norte-americano durante o segundo mandato de Trump, o comediante abordou a polêmica que tomou conta do programa de forma franca e direta, após um comentário sobre a identidade e os motivos do suposto assassino do ativista conservador, Charlie Kirk.   

“Uma ameaça do governo de silenciar um comediante de quem o presidente não gosta é antiamericana”, afirmou Kimmel, visivelmente emocionado, em um longo monólogo inicial no qual elogiou a indignação pública após a suspensão temporária de seu talk-show.   

“Não se pode permitir que nosso governo controle o que dizemos e o que não dizemos na televisão”, acrescentou o comediante, que provocou a ira de conservadores ao insinuar que estavam tentando explorar politicamente o assassinato de Kirk, baleado em 10 de setembro em um campus universitário Ao entrar no estúdio, no teatro na Hollywood Boulevard que leva seu nome, o público o recebeu com vários minutos de aplausos e gritos de “Jimmy”.   

Kimmel já apresentou o Oscar quatro vezes e o Emmy três vezes, mas talvez nunca seu monólogo tenha sido tão aguardado. “Não sei quem passou por 48 horas mais estranhas, eu ou o CEO da fabricante do Tylenol. Foi avassalador”, disse ele, quebrando o silêncio pela primeira vez.   

“Nosso governo não deveria ter o poder de controlar o que dizemos ou não falamos na televisão, e devemos defender esse princípio. Pensei muito sobre o que dizer esta noite, e a verdade é que não acho que minhas palavras farão muita diferença: se você gosta de mim, você gosta de mim; se não gosta, não gosta. Não pretendo mudar a opinião de ninguém. Mas há uma coisa que quero deixar claro: eu me importo como ser humano”, acrescentou.   

Kimmel destacou que nunca foi sua “intenção brincar sobre o assassinato de um jovem”. Com a voz embargada, ele continuou: “Nunca foi minha intenção culpar um grupo específico pelas ações de um indivíduo claramente instável. Eu estava tentando fazer o oposto. Mas entendo que algumas pessoas se sentiram ofendidas, ou incompreendidas, ou ambos. E para aqueles que se sentiram alvos, eu digo: entendo a raiva de vocês. Se tivesse acontecido o contrário, eu teria me sentido da mesma forma”.   

Na sequência, o apresentador esclareceu: “Não acho que o assassino de Kirk representasse ninguém. Ele era uma pessoa doente que pensava que a violência era a solução, e ela nunca é.” Kimmel agradeceu ao público e aos colegas apresentadores de programas noturnos que o apoiaram e disse que também conversou “com apresentadores de outros países, da Irlanda e da Alemanha”.   

“O da Alemanha me ofereceu um emprego. Dá para imaginar? Este país se tornou tão autoritário que até os alemães estão dizendo: ‘Venham aqui'”, reforçou ele, acrescentando que não quer tornar isso pessoal, porque este programa não é importante.   

“O que importa é viver em um país que nos permite ter um programa como este. Por isso, quero agradecer àqueles que não gostam do meu programa ou das minhas ideias, mas ainda assim defenderam meu direito de expressá-las” continuou ele, citando algumas vozes de direita que o defenderam e enfatizando que “é preciso coragem para se manifestar contra este governo”.   

Por sua vez, Trump criticou o retorno do apresentador ao seu programa e ameaçou a emissora. “Não acredito que a ABC, que divulgava notícias falsas, devolveu o emprego a Jimmy Kimmel”.   

Em uma publicação nas redes socais, o republicano disse que acha que seu governo vai “tentar tirar a ABC dessa situação”: “Vamos ver como fazemos. Da última vez que fui contra a emissora, me deram US$ 16 milhões. Desta vez, parece muito mais lucrativo”, alertou Trump, insinuando uma possível ação judicial após a emissora lhe indenizar. (ANSA).