22/09/2017 - 20:30
Leia entrevista com Jens Borchert, cientista político da Universidade de Frankfurt
Quais são os motivos que mantém Angela Merkel há 12 anos no poder?
Angela Merkel ganhará sua quarta eleição por três motivos. Primeiro, porque ela se saiu bem ao enfraquecer seus próprios desafiantes no partido. Em segundo lugar, os sociais-democratas estão extremamente enfraquecidos. Nunca conseguiram encontrar um candidato adequado desde o fim do governo de Gerhard Schroeder. Em terceiro lugar, o estilo reativo de Merkel parece adequado a um momento de crise. Seu governo pragmáticode resolver problemas teve um efeito tranquilizador sobre os cidadãos.
Merkel conseguiu chegar às vésperas da eleição com cerca de 40% das intenções de voto. A que se deve esse favoritismo?
A razão disso é a falta de alternativas sérias. Em março, quando Martin Schulz se tornou candidato a chanceler houve uma breve propaganda que o fez parecer um concorrente sério para Merkel, elevando o SPD a mesma posição que a CDU. Isso foi uma indicação de que o apoio a Merkel não era tão profundo quanto pensavam alguns. Algumas pessoas procuravam uma alternativa. No entanto, quando Schulz não mostrou qualquer consistência após a nomeção, caiu nas pesquisas tão rapidamente quanto surgiu.
Nos últimos anos, a CDU defendeu causas tradicionalmente ligadas à esquerda. O partido mostrou grande capacidade de adaptação?
Nem a CDU nem Merkel se moveram para a esquerda. Os democratas-cristãos sempre foram um partido pragmático do governo. E Merkel personifica essa tradição. Ao contrário de muitos em seu partido, ela tem poucas convicções ideológicas profundas, o que torna mais fácil para ela se mover pragmaticamente em reação a novos fatos. O que parece ser capacidade de adaptação trata se, na verdade, simbolismo ambivalente. Ao mesmo tempo que ela mudou de postura em relação aos refugiados em 2015, conluiu acordos com a Turquia para o fechamento da rota de refugiados para as Ilhas Gregas. Da mesma forma, acredita-se que tenha ocorrido com a Macedônia – que recebeu incentivos monetários e políticos da Alemanha para fechar a rota dos balcãs da Grécia para a Áustria e a Alemanha. Podemos chamar de obra-prima tática.
A Alemanha se tornou uma espécie de “porto seguro” em um continente ameaçado pelo surgimento da extrema direita, da xenofobia e do radicalismo islâmico?
Não. A Alemanha é apenas mais um país europeu a passar por esses aspectos. Teremos um partido de direita, o Alternativa para a Alemanha (AfD) no Parlamento após a eleição. Existe uma forte onda de xenofobia no Oriente especialmente. Temos o mesmo tipo de extremismo islâmico que se vê na França, Grã Bretanha, Bélgica, Espanha e em toda a Europa.
Qual a força do partido Alternativa para a Alemanha como oposição?
Será um partido muito isolado. Além disso, tomando como base a experiência da legenda nas legislaturas estaduais para as quais o AFD foi eleito, ele tende a se desintegrar com alguns de seus deputados renunciando e mudando de partido. Eles são um partido de protesto, ou seja, seus apoiadores ainda não estão consolidados.
Como será a coalização partidária caso Merkel vença a disputa?
Com mais de seis partidos no Bundestag após as eleições, provavelmente, haverá duas opções viáveis: continuar a coalizão com os social-democratas ou fazer uma aliança entre democratas-cristãos, liberais e verdes, a chamada coalizão Jamaica – uma associação entre as cores do partido que combinam com as cores da bandeira jamaicana. Tanto os Verdes quanto os liberais estão ansiosos para se unir ao governo. Os Verdes, em especial, permaneceram céticos durante muito tempo em relação à Merkel, porém mudaram de posição após a política de imigração estabelecida pela chanceler.
Quais são os desafios de Merkel nos próximos quatro anos?
Merkel não tem uma agenda política bem definida. Ela está apenas reagindo aos acontecimentos. Mas, seu maior desafio será encontrar um sucessor adequado. Ela terá 67 anos ao final do próximo mandato e com 16 anos no comando dão país. Seria o momento correto para se retirar. Porém, atualmente não há figuras fortes na liderança dos democrata-cristãos. Seu sucessor óbvio seria o ministro das finanças Wolfgang Schaeuble, de 75 anos. Sem dúvidas, deixar que uma figura se torne líder em seu partido será o grande desafio de Merkel.