Duas das casas de jazz com as programações mais criativas de São Paulo, polos de uma produção nova e vibrante sobretudo de cantoras e instrumentistas com trabalhos autorais, o Jazz B, no Centro, e o Jazz nos Fundos, em Pinheiros, lutam para sobreviver. Seus sócios esperam arrecadar até o próximo dia 16 a meta mínima de R$ 323 mil pelo site de arrecadação Benfeitoria para pagar as dívidas contraídas desde o fechamento dos dois endereços, em virtude da pandemia, há quase nove meses. O valor das contribuições, até a tarde de terça, 3, era de R$ 53 mil (o site para contribuir é www.benfeitoria.com/jazz).

Um dos três sócios da casa, Max Levy, argentino naturalizado espanhol, conta que o dinheiro arrecadado será usado apenas para quitar as despesas com os direitos dos funcionários que tiveram de ser demitidos no início da crise, algo em torno de R$ 300 mil, mais as contas pendentes com músicos, aluguel e fornecedores. “Não conseguimos nenhum apoio público nem privado. E bancos não fazem negócio com centros culturais, colocando juros que, para nós, seriam um suicídio”, diz Max. Ao mesmo tempo, os sócios reabrem as duas casas aos poucos, sem música nos palcos e colocando o foco na cozinha. O Jazz B tem aberto aos finais de semana com chefs excelentes na especialidade defumados servindo em mesas na calçada do número 43 da Rua General Jardim, na República.

Já o Jazz nos Fundos se prepara para abrigar eventos gastronômicos para até 50 pessoas, como o que fará dias 7 e 8, com uma apresentação (reduzida por natureza) de música flamenca. A Paella da Resistência será servida entre 12h e 14h, com show do violonista Davi Caldeira às 13h30. O prato será preparado ao estilo valenciano pelo chef espanhol Ricardo Sanmiguel.

O Jazz B e o Jazz nos Fundos chegaram a abrigar por ano, juntos, entre 700 e 800 shows. A casa mais antiga, o Jazz nos Fundos, fará 14 anos no próximo dia 1º, e o Jazz B, mais jovem, conta com sete anos em atividade. Ao todo, nos quase 15 últimos anos, Max calcula que tenham sediado entre 4 e 5 mil apresentações.

A expectativa do empresário é de que o meio dos shows leve três anos para se recuperar, mesmo com todos os ajustes de comportamento que uma vacina pode trazer. As casas reabertas tenderão a elitizar suas ações, cobrando mais para servir menos pessoas, e uma parcela da plateia cativa pode ser afugentada no primeiro momento. Uma vez reduzido os shows, os artistas também deverão passar por um crivo mais exigente pelos programadores. Se bem que, nas duas casas, era muito difícil assistir algo de qualidade inferior.

Se há um lado bom na crise, diz Max, ele está nos aprendizados. O ato de transmitir os shows da casa, por exemplo, é algo que ele e seus sócios já faziam nos anos 2000 e que sempre deu retorno de público, atraindo gente de outros estados que vinha conhecer os espaços depois de vê-los pela internet. Depois da crise, diz ele, as apostas não deverão ser exclusivamente nos shows. A música estará presente na programação, mas Max pensa em viabilizar mais seus espaços para que eles passem a ser também produtores de conteúdo online, e não apenas de shows presenciais. “Queremos tirar a pressão financeira da música.”

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