O chefe do governo japonês, Shinzo Abe, obteve uma ampla vitória nas eleições legislativas antecipadas deste domingo (22), segundo pesquisas de boca de urna.

A coalizão conservadora liderada pelo partido do primeiro-ministro nacionalista conquistou dois terços da Câmara Baixa, segundo estimativas da rede de televisão estatal NHK.

A coalizão, integrada pelo Partido Liberal Democrata (PLD, direita) de Abe e pelo partido Komeito (centro-direita), obteve ao menos 310 dos 465 assentos em disputa, indicou a NHK.

Antes, segundo estimativas da rede privada TBS, baseadas nas pesquisas de boca de urna divulgadas depois das 20H00 locais (09H00 em Brasília), foi indicado que a coalizão de Abe conseguiria 311 assentos.

No poder desde o final de 2012, depois de um primeiro exercício fracassado em 2006-2007, Abe poderá permanecer no controle do país até 2021, superando o recorde de longevidade de um primeiro-ministro japonês.

Antes das eleições, sua coalizão contava com 318 assentos na câmara baixa do Parlamento, mas uma série de escândalos de favoritismo afetaram sua imagem e trouxeram consigo o risco de uma derrota nas legislativas, inicialmente previstas para dentro de um ano.

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Assim, Abe, de 63 anos, decidiu em setembro dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas, aproveitando que a oposição se encontra muito fragmentada.

Com sua maioria confortável, Abe conseguirá ainda mais legitimidade em sua firmeza a respeito da Coreia do Norte, que já lançou dois mísseis sobre o arquipélago japonês. O primeiro-ministro é favorável à posição dos Estados Unidos de “manter todas as opções” na mesa, inclusive militar, contra Pyongyang.

“Minha missão imediata é agir com firmeza com a Coreia do Norte. Para isso, uma diplomacia forte é necessária. Vou reforçar nosso poder diplomático após a confiança depositada por vocês”, declarou Abe a um canal de televisão no domingo à noite.

– Derrota do Partido da Esperança –

Após uma breve campanha de 12 dias focada na Coreia do Norte e em questões econômicas, as eleições aconteceram sob forte chuva e, por vezes, ventos violentos, sinais que anunciam a chegada do tufão Lan, que se dirige para o arquipélago vindo do sudoeste com ventos de até 216 km/h no Oceano Pacífico.

Mais de 380 voos foram cancelados neste domingo no Japão, e os serviços de trens e ferries foram interrompidos no oeste do país, onde as autoridades locais emitiram recomendações de evacuação para os moradores que vivem perto da costa, rios e sopés de colinas, diante do risco de tsunami, inundações e deslizamentos de terra.

Se o mau tempo não atrapalhou a logística da votação, poderia favorecer a abstenção. Às 19H30 (08H30 no horário de Brasília), a taxa de participação era de 31,82%, contra 32,72% nas últimas legislativas, em dezembro de 2014.

No entanto, esta taxa não leva em consideração os votos antecipados, que é possível no Japão vários dias antes do dia oficial das eleições. E 21,4 milhões de eleitores, de cerca de 100 milhões de japoneses aptos, votaram antes deste domingo, um recorde, de acordo com o governo.

O Partido da Esperança (direita), da carismática governadora de Tóquio, Yuriko Koike, teria obtido 50 assentos, segundo a TBS. Ou seja, menos que a outra principal formação da oposição, o Partido Democrata Constitucional, que conseguiria 58 deputados.

“Acredito que o resultado será muito severo”, declarou Koike no domingo após as primeiras pesquisas de boca de urna, em Paris, onde estava para assistir a uma conferência internacional de prefeitos comprometidos com a luta contra a poluição atmosférica.

A líder de direita, de 65 anos, que foi uma famosa jornalista da televisão japonesa, foi ministra do governo Abe e compartilha seu nacionalismo, mas sua decisão de não se apresentar pessoalmente nas eleições a fez cair nas pesquisas.


– Debate sobre la reforma constitucional –

A coalizão de Abe estaria, portanto, em posição de manter sua maioria de dois terços na câmara baixa, como já acontece no Senado.

Trata-se de uma condição necessária para convocar um referendo propondo rever a constituição pacifista, ditada em 1947 pelos Estados Unidos após a rendição do Japão no final da Segunda Guerra Mundial e cujo artigo 9 proclama que o país renuncia “para sempre” à guerra.

Um desejo caro aos nacionalistas japoneses que apoiam Abe. No entanto, o primeiro-ministro não se mostrou muito apressado, neste domingo à noite, para mudar a Constituição, priorizando a ideia de alcançar um consenso que seja o mais amplo possível.

“Não prevejo propor [a emenda] apenas com a coalizão no poder. Tentaremos conseguir o apoio do maior número [de deputados] possível”, declarou, esperando poder “falar” sobre este assunto com o Partido da Esperança e outras formações.


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