Aos 88 anos, Hiromu Inada devora os Jogos Olímpicos. Este extraordinário triatleta japonês acompanha suas competições favoritas na televisão, aprendendo técnicas para melhorar seu desempenho com vistas ao Mundial de Ironman no ano que vem.

“Observo como os atletas usam as pernas na bicicleta, a maneira como se posicionam na piscina e o movimento das pernas na corrida e comparo com a maneira como faço”, explica ele à AFP após uma sessão de treinamento.

“Sempre descubro coisas novas”, acrescenta.

Devido à pandemia, os Jogos de Tóquio, que terminam no domingo (8), são disputados com regras sanitárias muito rígidas. Os atletas são submetidos a controles permanentes, e as provas, realizadas a portas fechadas.

“Muita gente queria o cancelamento dos Jogos, e eu mesmo tinha dúvidas, mas agora que estão acontecendo tenho lágrimas de alegria de vê-los”, afirma este homem que fará 89 anos em novembro.

Ele já detém o recorde mundial de pessoa mais velha a ter completado um circuito de Ironman no Mundial, um formato extenuante que envolve nadar 3,86 quilômetros, percorrer 180,25 quilômetros de bicicleta e correr uma maratona (42,195 km).

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– ‘Minha razão de ser’ –

Três vezes campeão desta competição em sua categoria de idade, o empenho de Inada é total. “O triatlo é a minha razão de ser, a prova de que estou vivo”, diz ele sobre a morte da esposa. “Só penso nisso”, acrescenta.

É a segunda vez que Hiromu Inada testemunha os Jogos em Tóquio. Na edição de 1964, era jornalista da rede pública de televisão NHK. Mas o clima era totalmente diferente.

O evento simbolizou o retorno triunfante do Japão ao cenário internacional, 20 anos depois da Segunda Guerra Mundial. O país surpreendeu o mundo com suas inovações tecnológicas, como o trem de alta velocidade “Shinkansen”.

“Naquela época, todo mundo assistia aos Jogos, mas não havia televisão em todas as casas. A gente costumava se reunir para assistir”, lembra Inada.

Seu intenso programa de treinamento começa com natação, às 6j da manhã, e depois pedalar. Sua dieta consiste principalmente de peixes, vegetais, a tradicional sopa japonesa missô e “natto”, um prato à base de soja fermentada.

Ele começou o triatlo tarde, aprendendo a nadar aos 60 anos depois de se aposentar para cuidar de sua esposa doente. “Achei que tinha que fazer exercícios, porque ficava em casa o dia todo”, explica ele.

– ‘Alegria de viver’ –

Aos 70 anos, ele entrou pela primeira vez em uma competição de triatlo local, antes de descobrir o Ironman alguns anos depois.

Em 2012, aos 80 anos, Inada conquistou pela primeira vez o Mundial de Ironman em sua categoria, no Havaí, com o tempo de 15 horas, 38 minutos e 25 segundos.

Três anos depois, tropeçou duas vezes antes de chegar à linha de chegada e o fez com cinco segundos de atraso, chegando fora do tempo homologado.


Depois dessa decepção, “triatletas estrangeiros que não me conheciam me enviaram mensagens de incentivo na minha conta do Facebook”, conta.

Ele então decidiu que precisava voltar, mesmo que caísse de novo. Terminou a prova no ano seguinte e, em 2018, tornou-se o mais velho, com 85 anos e 328 dias.

E planeja voltar a competir no próximo ano, aos 90: “As pessoas fazem piada, mas sempre digo que vivo uma segunda juventude. O simples fato de estar ativo me deixa feliz, é a alegria de viver, e ainda mais na minha idade”.

No momento, aproveita o tempo, assistindo aos melhores atletas do mundo em seu país. E ainda foi capaz de subir as encostas do Monte Fuji para assistir ao evento de ciclismo de estrada: “Foi incrível!”.


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