11/11/2024 - 16:55
“Quem está cuidando dos seus filhos?” foi a pergunta feita durante a campanha à deputada Saria Hino, uma das mulheres eleitas para o Parlamento, um número recorde que, no entanto, segue sendo minoritário.
Nas eleições de 27 de outubro, esta mãe de quatro filhos foi eleita como uma das 73 deputadas da Câmara de Representantes, com 465 assentos. Embora esta cifra represente o maior número de mulheres eleitas, elas ainda são minoria (16%).
Eleita no centro do Japão, Hino, de 36 anos, assumiu a missão de “entregar uma mensagem da linha de frente” a todas aquelas que criam filhos ou cuidam de pessoas idosas.
“Quero implementar políticas me baseando na grande quantidade de informações pessoais das quais disponho sobre o que acontece” nas creches e nos lares de idosos, explicou à AFP.
O arquipélago tem um índice de natalidade extremamente baixo.
O primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, reeleito na segunda-feira para o cargo, após uma votação parlamentar e que chefiará um Governo minoritário, qualificou a falta de bebês de “emergência silenciosa” e se comprometeu a promover medidas, como jornadas de trabalho flexíveis.
Seu antecessor, Fumio Kishida, também alertou para a crise demográfica e ampliou as leis sobre as licenças parentais e as ajudas financeiras para as famílias.
Mas Saria Hino, membro do opositor Partido Democrata do Povo, quer aportar uma nova visão para um debate amplamente dominado pelos homens.
O número de creches aumenta no Japão, mas a falta de mão de obra dificulta o trabalho dos professores.
“Do mesmo modo, a decisão recente do Governo de cortar o financiamento das residências para idosos está piorando as já difíceis condições de trabalho dos cuidadores”, afirmou.
Dirigentes mulheres são escassas na política japonesa, assim como no setor empresarial, em um país que ocupa a 118ª posição entre 146 no informe 2024 do Fórum Econômico Mundial sobre o abismo de gênero no mundo.
Deputadas veteranas, como as ex-ministras Seiko Noda e Seijo Hashimoto, insistiram nas dificuldades de serem parlamentares em uma sociedade em que se supõem que elas devam assumir a maior parte das tarefas domésticas.
Além disso, as mulheres que ocupam cargos de poder ainda enfrentam comentários sexistas.
Este ano, o ex-vice-premiê Taro Aso qualificou a então ministra das Relações Exteriores, Yoko Kamikawa, de 71 anos, como “estrela em ascensão”, ao mesmo tempo em que a descreveu como uma “velha” que não era “tão bela”.
Uma em cada quatro candidatas disse ter sido vítima de assédio sexual durante campanhas eleitorais, segundo uma pesquisa de 2021.
O Partido Liberal Democrata (PLD), formação conservadora do primeiro-ministro e seu partido aliado na coalizão perderam sua maioria pela primeira vez desde 2009 nas eleições de outubro.
Uma das deputadas do PLD, Jun Mokoyama, também foi questionada assim como sua colega, Hino, durante a campanha eleitoral: “Quem cuidaria de seu filho?”.
“Uma pergunta que não faria a um candidato masculino”, afirmou esta mulher na faixa dos 40 anos, que precisou fazer tratamento de fertilidade.
Atraída pela “política de segurança pragmática” do PLD e pela capacidade do partido para dirigir o país, acredita, no entanto, que “falta diversidade” na formação e quer mudar a forma de pensar.
Assim como suas colegas Hino e Inokuchi, quer garantir que sejam ouvidas as vozes de quem “enfrenta a dificuldade de acumular trabalho e família”, especialmente as mulheres.
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