Japão registra menor número de nascimentos em mais de 100 anos

Japão registra menor número de nascimentos em mais de 100 anos

"NúmeroTendência de queda no número de nascimentos não vista desde 1899 se agrava e preocupa autoridades. Total de óbitos foi mais que o dobro do número de nascimentos em 2024.O número de recém-nascidos no Japão vem diminuindo mais rápido do que o previsto, com a taxa de natalidade do ano passado atingindo mais um recorde negativo, segundo dados do governo divulgados nesta quarta-feira (0506).

O número de nascimentos por ano ficou abaixo de 700.000 pela primeira vez desde o início dos registros, em 1899. O Ministério da Saúde do Japão informou que 686.061 bebês nasceram no país no ano passado, uma queda de 5,7% em relação ao ano anterior, o que fez de 2024 o 16º ano consecutivo de declínio.

O total do ano passado representa cerca de um quarto do pico de 2,7 milhões de nascimentos em 1949 durante o chamado baby boom ocorrido após o fim da Segunda Guerra Mundial. A queda na taxa de natalidade se mantém em tendência de queda desde um segundo pico registrado em 1973, caindo para menos de um milhão em 2016 e para menos de 800.000 em 2022. Os dados de 2024 representam apenas um quarto do recorde registrado no pós-guerra.

Os dados mais recentes do Ministério da Saúde mostraram que a taxa de fertilidade do Japão – o número médio de bebês que uma mulher pode ter ao longo de sua vida – também caiu para uma nova mínima de 1,15 em 2024, ante 1,2 no ano anterior. Esses dados estão bem abaixo do índice de 2,1 considerado necessário para manter a população estável. Segundo a pasta, foram registradas 1,6 milhão de mortes em 2024, uma alta de 1,9% em relação ao ano anterior.

Por outro lado, o número de casamentos – fator fundamental em um país onde poucas crianças nascem fora do matrimônio – aumentou em 10.322 em relação ao ano anterior, chegando a 485.063. No entanto, a tendência de queda registrada desde a década de 1970 permanece inalterada.

"Emergência silenciosa"

Os dados, em um país com população em rápido envelhecimento e encolhimento, aumentam a preocupação com a sustentabilidade da economia e da segurança nacional em um momento em o país que busca aumentar os gastos com defesa.

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, descreveu a situação como "uma emergência silenciosa" e prometeu novas medidas como promover um ambiente de trabalho mais flexível que possam ajudar os casais a conciliar o trabalho e a criação dos filhos, especialmente em áreas rurais, onde os valores familiares tendem a ser mais conservadores e mais rigorosos para as mulheres.

As últimas estatísticas são bastante incômodas para as autoridades, com o país atingindo o patamar de aproximadamente 680.000 nascimentos/ano 15 anos antes do previsto pelo Instituto Nacional de Pesquisa Populacional e de Previdência Social.

Se essa tendência continuar, a população japonesa, de cerca de 124 milhões, deverá ser reduzida para 87 milhões até 2070, quando 40% da população deverá ter 65 anos ou mais.

Jovens relutam em ter filhos

Especialistas apontam que as medidas do governo não envolvem o número cada vez maior de jovens relutantes em se casar, e se concentram principalmente nas pessoas já casadas.

A geração mais jovem está cada vez mais relutante em se casar ou ter filhos devido às perspectivas sombrias de emprego, ao alto custo de vida e a uma cultura corporativa com viés de gênero que adiciona encargos extras para mulheres e mães trabalhadoras, afirmam os especialistas.

Um número crescente de mulheres também cita como motivo para sua relutância em se casar as pressões para adotarem o sobrenome do marido. Segundo a lei japonesa, os casais devem optar por um único sobrenome ao se casarem.

Problema atinge todo o Leste Asiático

A população do Japão, de cerca de 124 milhões de pessoas, deverá cair para 87 milhões até 2070, com 40% da população com mais de 65 anos.

O Japão é apenas um dos vários países do Leste Asiático que lutam contra a queda das taxas de natalidade e o envelhecimento da população. Há anos a Coreia do Sul e a China também adotam medidas para incentivar as famílias a terem mais filhos.

Nesta quarta-feira, o Vietnã revogou leis de décadas que impunham limites de dois filhos por casal, em um esforço para conter a queda nas taxas de natalidade.