As primeiras imagens divulgadas pelo telescópio James Webb a partir da segunda-feira, 11, aliviaram a enorme expectativa dos especialistas e despertaram a curiosidade do público, mas ainda são apenas uma piscadela no potencial que essa máquina tem de ampliar a imagem que a humanidade tem do universo.

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Pelas escalas superdimensionadas, enxergar mais longe significa olhar para o passado, é bom lembrar. Quando você olha para o sol, a luz da nossa estrela mais próxima levou oito minutos para chegar aqui. Quando o James Webb enxerga as galáxias mais distantes, a luz delas levou 13,5 bilhões de anos para chegar até a Terra. É possível que essas formações nem existam mais. O James Webb não mostra o cosmo como é atualmente, mas como era no nascimento do universo. Será capaz de revelar galáxias formadas poucas centenas de milhões de anos após o big bang, há cerca de 14 bilhões de anos.

Diferentemente dos telescópios caseiros ou mesmo do Hubble, o telescópio espacial que redefiniu a forma como enxergamos o universo nos últimos 30 anos, o James Webb (que fica estacionado num ponto do espaço a 1,5 milhão de quilômetros de distância da Terra) não “enxerga” no espectro visível da luz. Para ver a uma distância tão grande, está programado para registrar ondas infravermelhas, que não são aquelas que o olho humano enxerga. Isso em nada muda a qualidade das informações nem altera a percepção que teremos dos astros.

As pinturas rupestres mostravam como os primeiros humanos viam a realidade há 30 mil anos. Hoje, as imagens digitais suplantaram o desenho, a pintura e mesmo as fotografias químicas. Mas os rabiscos primitivos feitos nas cavernas pelos primeiros homens expressam a curiosidade humana e a realidade da mesma forma, com complexidade, sutileza e riqueza. A representação “artificial” do James Webb, como uma foto preto e branco colorizada artificialmente, tem a mesma legitimidade e importância.


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Do ponto de vista científico, será possível compreender como se deu a explosão inicial e como o nascedouro de estrelas permitiu, depois, o nascimento da vida. É um feito tecnológico extraordinário que expande a compreensão que temos do universo. Por coincidência, na Terra, no mesmo momento, o maior acelerador de partículas já construído entrará em atividade (agora reformado e mais poderoso), o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), instalado no CERN (European Organization for Nuclear Research), na Suíça.

Os físicos acreditam que o novo LHC vai permitir quebrar de vez o modelo-padrão das partículas, a descrição da matéria e das forças que a sustentam e que explicaria todo o mundo físico. É esse modelo que predomina atualmente, juntamente com a teoria da relatividade, formulada por Einstein no início do século XX. Isso pode mudar, mostram descobertas feitas nos últimos anos. É surpreendente. A evolução tecnológica está permitindo ampliar as fronteiras do conhecimento de forma inédita, e mesmo assim nunca o homem pareceu tão involuído, exatamente como já antecipava a ficção científica no século XIX.