O mestre da xilogravura nordestina, José Francisco Borges, conhecido como J. Borges, morreu nesta sexta-feira, 26, aos 88 anos. A informação foi confirmada pela família nas redes sociais.

J. Borges era natural de Bezerros (PE) e foi um dos maiores artistas do país com obras expostas em todo o Brasil, no Museu Louvre, de Paris, na França, e no acervo da Biblioteca Nacional de Washington, nos EUA. Ele também fez exposições nos Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Itália, Venezuela e Cuba. E também participou da edição comemorativa dos 400 anos do D. Quixote, de Miguel de Cervantes, com uma versão em cordel da referida novela de cavalaria.

O artista, que produziu mais de 300 folhetos de cordel, chegou a ser comparado com Pablo Picasso em reportagem do jornal New York Times, em 2006. Suas xilogravuras ganharam admiradores de peso, como o escritor Ariano Suassuna.

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O artista tem vários prêmios, como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, o prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na categoria Ação Educativa/Cultural e o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Ilustrou também a capa de livros de escritores como Eduardo Galeano e José Saramago, inspirou documentários e o desfile da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, em 2018.

Em nota, o governo de Pernambuco lamentou a morte do artista. “Em reconhecimento merecido pela sua contribuição com a cultura popular, através da xilogravura e na arte do cordel, J Borges é – eternamente – Patrimônio Vivo de Pernambuco”, diz a nota assinada pela Secretaria Estadual de Cultura de Pernambuco e pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

“No agreste pernambucano, a cidade de Bezerros abriga seu espaço Memorial J.Borges, onde o gravurista atuava, junto aos seus filhos e herdeiros de legado, e onde podem ser encontrados diversos exemplares das suas obras”, conclui a nota do governo.

Exposição relembra trajetória de J. Borges

A retrospectiva da obra do mestre da xilogravura brasileira está disponível ao público na exposição O Sol do Sertão, que vai até o dia 25 de março de 2025, no Museu do Pontal, no Rio de Janeiro. A abertura da exposição ocorreu no último dia 29.

Segundo o curador e diretor-executivo da exposição, Lucas Van de Beuque, o museu fez uma longa pesquisa em cima dos acervos e coleções do artista espalhados no Brasil. Para fazer a pesquisa, os curadores foram à casa e ao ateliê de J.Borges, na cidade de Bezerros (PE), onde o artista nasceu no dia 20 de dezembro de 1935. Também foram usados livros e biografias que foram escritos sobre o artista.

Para Lucas Van de Beuque, J.Borges era uma pessoa do seu tempo, atenta ao que acontecia no mundo e ao que as pessoas se interessavam. Ao mesmo tempo, era alguém muito ligado ao seu caminho e ao que estava querendo propor. “Não é algo circunstancial. Ele tem compromisso com o Nordeste, com o cordel, com esses valores nordestinos de um jeito de viver que é muito relevante para ele. É muito forte essa forma de viver”.

Na exposição. o curador destaca, em especial, a primeira xilogravura que o artista fez em 1964, iniciando sua produção para a capa do segundo cordel que escreveu. “Ali nasce também o nome J.Borges. Porque o nome completo dele (José Francisco Borges) não cabe na xilo. Esse testemunho está também na exposição”.

A exposição ocupa grande parte da galeria principal do Museu do Pontal, as duas galerias do mezanino, o saguão e um painel de 24 metros quadrados. São 200 obras, um mini documentário sobre a vida e obra do artista e uma linha do tempo, além de um conjunto de 50 matrizes mostrando como foram feitas as xilogravuras.

O público poderá adquirir, a preços populares, uma obra do xilogravurista na lojinha que será montada durante a festa, semelhante à que existe em Bezerros.

* Com informações da Agência Brasil