Um dia após a Petrobrás dar início ao envio do prospecto de venda da BR Distribuidora para eventuais interessados, mais um grande grupo investidor passou a estudar a compra da rede de distribuição de combustíveis da estatal. A Itaúsa, holding de investimento das famílias Setubal e Vilella, em conjunto com a Cambuhy Investimentos, empresa de private equity da família Moreira Salles, está avaliando o negócio como uma possibilidade de diversificação de portfólio, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo.

Se a decisão se confirmar, o grupo entraria na briga com outros interessados, como o fundo de investimentos americano Advent, a gestora brasileira GP Investiments e a trading de commodities holandesa Vitol. Segundo fonte que acompanha de perto o processo de venda da BR Distribuidora, Itaúsa e Cambuhy têm caixa e apetite para investir, mas não teriam equipe para assumir o negócio. Por isso, é provável a construção de um consórcio para arrematar a BR, caminho que pode ser seguido também por outros grupos interessados.

De acordo com a mesma fonte, muitos players devem olhar o ativo para entender o negócio, mas os investidores financeiros são encarados como os mais propensos a levar a disputa adiante. “O que afasta os investidores estratégicos é o fato de a bandeira BR ter um grande valor. Esse investimento não faria sentido para quem já tem sua própria marca”, explica. Já as tradings também têm interesse, pois podem se aproveitar da diferença entre os preços de combustível no mercado interno e no externo.

Segundo uma fonte da Petrobrás, a estatal teria menos interesse em fechar negócio com outra distribuidora – como a Ipiranga, do Grupo Ultra, e a Raízen (parceria entre Cosan e Shell) – para evitar dificuldades de aprovação do acordo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A Itaúsa, segundo fontes, poderia se tornar um sócio de referência no capital da BR Distribuidora. Ao contrário dos fundos de private equity, que entram nas companhias com o objetivo de vendê-las, ela seria um parceiro de longo prazo.

Histórico. Após negociações sem sucesso para a venda de participação minoritária da BR Distribuidora, a estatal concordou em ceder o controle do negócio de combustíveis. A Petrobrás vai se desfazer de 51% do capital votante da BR como parte de seu programa de vendas de ativos. O valor de 100% da BR Distribuidora estaria em cerca de R$ 30 bilhões, segundo avaliações de mercado.

No ano passado, a Petrobrás estava disposta a se desfazer apenas de 25% da BR. O negócio, no entanto, não atraiu a atenção dos investidores, uma vez que muitos temiam ficar subordinados à estatal, sobretudo depois da Operação Lava Jato, que investigou escândalo de corrupção na petrolífera. Outra alternativa aventada foi a abertura de capital do negócio, mas a proposta também se revelou financeiramente pouco atraente e acabou abandonada.

Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a BR detinha 19,7% das vendas de combustíveis no País em março. A segunda colocada, a Ipiranga, detinha com 17,7%, já somada a participação de 3,1% da Ale, que a distribuidora do Grupo Ultra adquiriu em abril. A terceira colocada é a Raízen.

Próximos passos

Como a Petrobrás é uma empresa pública, os ritos do processo de venda devem empurrar a conclusão da operação para o ano que vem, segundo o próprio presidente da estatal, Pedro Parente, declarou em julho.

A ideia, explicou o executivo, é que as ofertas sejam avaliadas pela companhia durante o primeiro trimestre de 2017. “Achamos que vamos receber as propostas vinculantes no fim de novembro ou em dezembro”, disse Parente na época. Mesmo depois da decisão final da Petrobrás, a venda da BR Distribuidora terá de passar pelo crivo de órgãos reguladores.

Procurados, Itaúsa, GP e Cambuhy não retornaram os contatos da reportagem. A Advent afirmou que não comentaria. A Petrobrás reforçou apenas que enviou, na segunda-feira, o prospecto de venda a potenciais parceiros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.