O Itaú Unibanco acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve iniciar o processo de queda da Selic com “cautela” na semana que vem. O banco lembra que na ata da última reunião, o BC sinalizou o início do afrouxamento monetário com parcimônia.

O Itaú espera que primeiro movimento de corte de juros tenha magnitude mais contida, isto é, uma redução de 0,25 ponto porcentual, mesmo que a curva de juros de mercado já contemple a possibilidade de um movimento mais intenso. “Entendemos que cabe ao Copom liderar o mercado, não vice-versa”, escrevem Julia Gottlieb e Julia Passabom.

Para justificar a necessidade de cautela na condução do afrouxamento monetário, as economistas analisaram as condições econômicas que precederam outros cinco episódios de cortes de juros, nos anos de 2005, 2009, 2011, 2016 e 2019 e compararam o ponto de partida atual.

A expectativa do Itaú de um começo com redução moderada da Selic – atualmente em 13,75% ao ano – deve se à dinâmica de núcleos e expectativas de inflação ainda acima da meta e resiliência na atividade econômica e mercado de trabalho.

“Ciclos anteriores que começaram com cautela foram bem-sucedidos em levar a inflação para próximo da meta, possibilitando um equilíbrio final de juros mais baixos por mais tempo, e domando as expectativas inflacionárias”, afirma.

De acordo com o banco, cautela no início do processo de flexibilização também penaliza menos a taxa de câmbio. De maneira geral, por ser uma moeda historicamente de carrego alto, o real tende a se desvalorizar após o primeiro recuo da Selic. “Um início de corte mais cauteloso pode atenuar esse efeito”, estima.

Já ao contrário, diz o documento do Itaú, poderia levar a uma eventual depreciação da moeda e piora nas expectativas de inflação. Isso, escrevem, “poderia cercear e, no limite, até interromper o processo de desinflação em curso.”

Embora com melhora recente, o banco ressalta que os núcleos de inflação e as expectativas ainda se encontram em níveis relativamente elevados, indicando que permanece a desancoragem em relação à meta.

Além disso, menciona que a atividade econômica se mantém resiliente e o mercado de trabalho está aquecido. “Embora o novo arcabouço fiscal tenha reduzido incertezas, o juro que equilibra a economia parece ser maior hoje do que no passado recente (como afirmou o próprio BC em seu último Relatório de Inflação, ao revisar sua estimativa de juro real neutro de 4,0% para 4,5%)”, cita.

Segundo o Itaú, o BC deve mostrar projeções de inflação em 4,9%, 3,3% e 3,0% (de 5,0%, 3,4% e 3,1%) para 2023, 2024 e 2025, respectivamente. A revisão para baixo no ano corrente, explica, reflete a apreciação da taxa de câmbio (de R$ 4,85 para R$ 4,75) e o corte de preços de combustíveis na refinaria anunciado pela Petrobras em julho, a despeito da defasagem supracitada. “Já para 2024 e 2025, a queda das projeções se deve à menor inércia do ano anterior e à melhora das expectativas mais longas de inflação”, argumenta.

No Comitê de agosto, o banco espera que o balanço de riscos para a inflação continue sendo descrito como simétrico, com as autoridades mantendo a sinalização sobre o risco de alguma desancoragem ainda persistente das expectativas.

“Em seu guidance, o Copom deve indicar que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas, avaliando que uma flexibilização gradual da taxa básica é a estratégia adequada para assegurar sua convergência. Em relação à conjuntura econômica, o comitê pode sinalizar que sua evolução permitirá a continuidade da flexibilização parcimoniosa da política monetária à frente”, afirma em outro relatório o economista-chefe Mario Mesquita.