Os italianos desafiaram o avanço do coronavírus para votar neste domingo(20) em um referendo e eleições regionais, reduto da esquerda há meio século que a extrema-direita espera conquistar.

Até o meio do dia, a participação no referendo nacional foi de 12,3%, de acordo com o Ministério do Interior italiano.

Os 46 milhões de eleitores de todo o país devem se pronunciar sobre a redução do número de parlamentares, promessa eleitoral do Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema). O número cairia de 945 para 600.

Hoje, a Itália tem o segundo maior parlamento da Europa, atrás do Reino Unido (cerca de 1.400) e à frente da França (925).

Seis regiões (mais de 20 milhões de habitantes) elegem seus presidentes. Em três delas, uma possível vitória da direita seria um tapa na cara do governo de Giuseppe Conte, coalizão formada há um ano entre o M5S e o Partido Democrata (PD, centro-esquerda).

Uma sétima região, Vale de Aosta, renova seus conselheiros regionais, implicados em uma investigação sobre a infiltração da máfia na ‘Ndrangheta (máfia calabresa) nas eleições regionais de 2018.

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A coalizão de direita formada pela Liga de Matteo Salvini (extrema-direita), Irmãos da Itália de Giorgia Meloni (FDI) (extrema-direita) e Força Itália de Silvio Berlusconi (direita) permanece unida em todas as regiões.

Ao contrário, a coalizão governamental (PD e M5S) está dividida, excepto na Ligúria (noroeste) onde chegou a um acordo sobre um candidato comum.

Todos os observadores permaneciam na Toscana, uma fortaleza “vermelha” do pós-guerra que pode cair nas mãos da Liga de Salvini.

“A eleição na Toscana será decisiva para Matteo Salvini”, cuja popularidade despencou durante a pandemia, destaca a analista política Barbara Fiammeri, do jornal Sole 24 ore.

A Liga apresenta a ex-deputada Susanna Ceccardi, que terá que enfrentar um candidato escolhido por Matteo Renzi, o ex-chefe do governo (pelo Partido Democrata) que tenta reacender com sua nova formação, o Itália Viva.

O futuro do chefe do Partido Democrata, Nicola Zingaretti, pode ser decidido nesta região. O do líder do M5S, Luigi di Maio, depende mais de um “sim” ao referendo.

O resultado será conhecido na noite de segunda-feira, mas dificilmente derrubará o governo, que “não tem intenção de organizar uma legislação” de desfecho incerto, analisa Franco Pavoncello, professor de Ciência Política da Universidade John Cabot de Roma.

– Renuncia massiva –

A situação atual exige alguma estabilidade: a Itália deve apresentar em Bruxelas seu plano nacional de reativação contra a pandemia, para obter 208,6 bilhões de euros (247 bilhões de dólares) em doações e empréstimos.

Os centros de votação abriram neste domingo das 7h às 23h locais e serão reabertos na segunda-feira, das 7h às 15h.

Apenas 1.820 eleitores, isolados em casa devido ao coronavírus, pediram para votar à distância. É o caso do ex-chefe de governo Silvio Berlusconi, que contraiu o coronavírus, mas recebeu alta do hospital há poucos dias.


Em Roma, o hospital Spallanzani, principal centro contra o coronavírus, instalou em seu interior um colégio eleitoral. O estabelecimento tem 93 pacientes positivos para covid-19, dos quais dez estão em terapia intensiva.

Lorenzo Salvioni, estudante de Roma, espera que “as dificuldades do país causadas pela covid-19” mobilizem os italianos. Mas o medo tomou conta dos escrutinadores(designados para contagem de votos) e presidentes dos centros de votações, que renunciaram em massa em todo o país.

A cidade de Milão pediu no sábado, por meio das redes sociais, a substituição de 100 presidentes destes centros. Há também preocupações com o fato de que os eleitores tenham que baixar as máscaras para se identificar antes de votar.

No sábado, o país registrou 1.628 novos casos e 24 mortes em 24 horas. Em dois terços dos casos o contágio é transmitido dentro das famílias, dos mais jovens aos mais velhos, o que elevou a média de idade.

Para Massimo Galli, especialista em doenças infecciosas em Milão, essas eleições, várias vezes adiadas, são uma “loucura”.


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