MILÃO, 13 JUL (ANSA) – Um comitê de familiares de vítimas da pandemia do coronavírus Sars-CoV-2 na Itália enviou nesta segunda-feira (13) uma carta aos presidentes da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, Róbert Spanó, denunciando possíveis crimes contra a humanidade na gestão da crise na Lombardia.   

O documento foi enviado no segundo “Dia D” para apresentação de denúncias ao Ministério Público de Bergamo pelo comitê Noi Denunceremo (Nós Denunciaremos), que reúne mais de 60 mil pessoas no Facebook.   

A carta chama atenção para decisões tomadas na Lombardia, epicentro da crise no país, e que “teriam causado milhares de mortes de idosos” em asilos e o “colapso de hospitais” durante a emergência. Além disso, pede uma supervisão das investigações em curso na região.   

“Como parentes das vítimas, solicitamos a supervisão dos inquéritos sobre a epidemia de coronavírus na Itália, com um olhar atento para potenciais violações de alguns artigos da Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia. Em particular, se deliberadas decisões políticas violaram o direto à vida de milhares de membros de nossas comunidades (artigo 2); o direito à integridade física e psicológica de nossos idosos (art. 3); e o direito à dignidade humana (art. 1º)”, diz a carta.   

Denúncias – No primeiro “Dia D”, em 10 de junho, o comitê Noi Denunceremo apresentou cerca de 50 denúncias ao MP de Bergamo, um dos maiores focos da pandemia na Itália. Já nesta segunda-feira, foram mais 100 ações.   

As denúncias questionam o motivo de não ter sido decretado um lockdown imediato no Vale Seriana, epicentro da pandemia na província, e o não-fechamento do hospital de Alzano Lombardo, de onde o Sars-CoV-2 começou a se espalhar por Bergamo.   

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As ações também citam a suposta falta de informações para os pacientes e parentes sobre os riscos de infecção, especialmente no início da pandemia; a ausência de dispositivos de proteção em hospitais; e a escassez de médicos para a gestão domiciliar de doentes sem necessidade de internação.   

Falta de lockdown – A província de Bergamo registrou seus primeiros casos em 23 de fevereiro, mas só entrou em lockdown em 9 de março, com o restante da Lombardia. A postura das autoridades divergiu daquela adotada para as 11 cidades que diagnosticaram os primeiros contágios por transmissão interna na Itália, em 21 de fevereiro.   

Naquela ocasião, os 11 municípios – sendo 10 na província de Lodi, na Lombardia, e um na província de Pádua, no Vêneto – foram transformados imediatamente em “zona vermelha”, um regime rígido que incluía até toque de recolher.   

O primeiro-ministro Giuseppe Conte, o governador da Lombardia, Attilio Fontana, e o secretário de Bem-Estar Social da região, Giulio Gallera, já foram ouvidos pelo MP de Bergamo, mas como “testemunhas informadas sobre os fatos”, já que nenhum deles é investigado no momento.   

Bergamo é a quarta província com mais casos na Itália em termos absolutos, com 14,7 mil, atrás de Milão (24,6 mil), na Lombardia, Turim (15,9 mil), no Piemonte, e Brescia (15,8 mil), também na Lombardia.   

A província ainda sofreu alguns dos episódios mais dramáticos da pandemia no país, como a fila de caminhões do Exército para remover corpos para cemitérios e crematórios de outras regiões.   

(ANSA)


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