SÃO PAULO, 1 DEZ (ANSA) – Por Bruna Galvão – O luto e a maternidade em suas diversas nuances são o tema de “Bella Mia”, romance da premiada escritora italiana Donatella Di Pietrantonio recém-lançado no Brasil.
A autora, que esteve em São Paulo para apresentar a obra, confronta os dois principais tópicos da trama a partir do violento terremoto que devastou a cidade de L’Aquila, região de Abruzzo, em abril de 2009, deixando mais de 300 mortos. Diante desse cenário, ela espera que os leitores brasileiros “apreciem o romance por seus temas e personagens” em “um momento de tragédia coletiva”.
Ao mesmo tempo que a história “transmite a temática da perda, há também a possibilidade humana de vivenciá-la intensamente, transformando o luto e a si mesmo nesse processo”, disse Di Pietrantonio em entrevista à ANSA, que tem Publicado originalmente na Itália em 2014, “Bella Mia” é o segundo romance da autora e, no Brasil, tem tradução de Patricia Peterle. A obra conta a história de Caterina, que, ao perder sua irmã gêmea, Olivia, no terremoto de L’Aquila, recebe a missão de cuidar de Marco, seu sobrinho adolescente.
Sem nunca ter tido filhos, Caterina precisa aprender a ser mãe, a lidar com a ausência de sua irmã e a reconstruir laços com a própria genitora e com uma comunidade marcada pela tragédia.
Para a escritora, o luto permanece como um dos maiores tabus da cultura ocidental porque “tendemos a ficar no reino das coisas reconfortantes e a ter dificuldade em encarar as áreas sombrias, aquelas que provocam instabilidade, incerteza e angústia”.
“Gostaria de transmitir como o luto é uma experiência dolorosa, mas também uma fonte de crescimento e desenvolvimento pessoal. Por isso, escolhi um evento catastrófico que nos força a confrontá-lo em múltiplos níveis: individual, familiar e comunitário”, explicou Di Pietrantonio.
Sobre a “amplitude da maternidade”, que “transcende o biológico e abrange aspectos de rejeição, distanciamento e abandono”, a escritora disse que escolheu apresentar o tema a partir da escolha da protagonista de não querer ter filhos, mas que, por fatores terceiros, tornou-se “mãe do próprio sobrinho”.
Nascida no vilarejo de Arsita, em Abruzzo, em 1962, Di Pietrantonio estreou na literatura em 2011 com “Mia madre è un fiume” (“Minha mãe é um rio”), mas foi o livro “A devolvida” (“L ‘Arminuta”), de 2017, que recebeu uma edição no Brasil, o primeiro a lhe conferir reconhecimento internacional, com o prestigioso Prêmio Campiello.
Finalista do Prêmio Strega de 2020 com “Borgo Sud”, a autora veio a vencê-lo em 2024, com “L’eta fragile”.
“A afirmação das mulheres no campo literário me parece necessária e natural no processo de modernização da sociedade, que leva à superação, ainda que incompleta, da desigualdade de gênero”, pontuou a escritora, em referência a um gênero que por muito tempo foi dominado por homens.
De acordo com Di Pietrantonio, por mais que as mulheres contemporâneas tenham “mais liberdade para se expressar do que no passado, ainda há muito a ser feito”. “Os resquícios tóxicos do patriarcado ainda são severamente limitantes”, destacou.
(ANSA).