ESTRASBURGO, 13 SET (ANSA) – O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, elogiou a atuação do governo italiano na gestão da grave crise migratória ao continente nos últimos anos durante seu discurso anual sobre o Estado da União perante o Parlamento Europeu nesta quarta-feira (13).   

“Não posso falar de imigração sem pagar um tributo à Itália por sua generosidade. No Mediterrâneo, a Itália salvou a honra da Europa. Neste verão, a Comissão trabalhou em estreito contato com o premier [Paolo] Gentiloni e seu governo para melhorar a situação, em particular, com o treinamento da Guarda Costeira da Líbia”, disse Juncker aos eurodeputados.   

Segundo o líder da Comissão, “nós continuaremos a oferecer um forte apoio financeiro e operacional” aos italianos no que se refere ao país norte-africano do qual parte a principal rota de imigrantes ilegais via Mar Mediterrâneo.   

Recentemente, o governo Gentiloni fechou uma série de acordos bilaterais com o governo de unidade líbio, que se referem desde à ajuda humanitária e financeira até o treinamento militar de agentes e de guardas líbios.   

Apesar dos elogios de Juncker, e de entidades importantes como a Organização das Nações Unidas, esses acordos foram criticados pela oposição líbia, especialmente pelos comandados do “rival” do premier Fayez al-Sarraj, o general Khalifa Haftar, e por ONGs que atuam no Mediterrâneo.   

“Precisamos colocar fim com a máxima urgência às condições de acolhimento na Líbia”, que segundo Juncker, são “escandalosas e que me deixaram chocado”. “A Europa não é uma fortaleza. É e continuará sendo um continente de solidariedade para aqueles que precisam de um refúgio”, acrescentou.   

Em outra frente, Juncker destacou que é preciso também “intensificar consideravelmente os nossos esforços e as nossas ações na questão das repatriações” daqueles estrangeiros que não têm o direito de permanecer na UE. “E só assim a Europa poderá dar prova de sua solidariedade nas relações dos refugiados que tem a verdadeiramente necessidade”, acrescentou.   

O caso dos “imigrantes econômicos”, que são aqueles que abandonam seus países de origem não por motivos de perseguições ou humanitários, mas por buscar uma condição de vida melhor na Europa, já causou acalorados debates entre os líderes europeus – opondo, por diversas vezes, os governos de Alemanha e França contra a Itália.   

Outro ponto defendido pelo presidente da Comissão Europeia é a questão dos financiamentos financeiros na África – onde há consenso entre todos os países europeus “ocidentais”, mas há críticas daqueles do leste europeu.   

“A solidariedade não pode ser um assunto apenas intra-europeu, trata-se também de colocar em campo uma maior solidariedade com à África. O nosso fundo chegou ao limite. Convido a todos os Estados-membros a unir os gestos à palavra e a fazer com que o fundo de confiança para a África não se esvazie”, acrescentou.   

Para Juncker, é preciso que os europeus aproveitam agora que “os ventos voltaram a estar a favor da UE” para dar esse passo.   

“Nós temos uma janela de oportunidades, mas ela não durará para sempre. Precisamos usar esse tempo para concluir o que definimos em Bratislava e para completar a nossa agenda positiva”, disse lembrando dos compromissos assumidos pelos membros do bloco em reuniões anteriores.   

– Economia, mudanças climáticas e Brexit: Durante seu discurso, Juncker também celebrou a retomada do crescimento econômico do bloco “dez anos depois da crise que nos atingiu”. Segundo o líder europeu, “estamos no quinto ano de crescimento econômico” e com projeções boas para os próximos anos.   

No entanto, apesar de defender que a União Europeia “tem as portas abertas ao comércio”, ele afirmou que é preciso haver “reciprocidade” e que “nós não somos defensores ingênuos do livre comércio”.   

Já na questão das mudanças climáticas, o líder da Comissão Europeia pediu que o bloco esteja “na vanguarda da luta” contra os problemas do clima, e que, perante o desenho dos Estados Unidos, “a Europa precisa achar uma maneira para voltar a tornar o planeta grande”.   

Após a eleição do presidente norte-americano, Donald Trump, o governo anunciou que os EUA saíram do acordo contra as mudanças climáticas assinado em Paris.   

O líder europeu ainda falou sobre o processo de saída do Reino Unido do bloco europeu, o chamado Brexit, e chamou o momento de “triste e trágico”. “Sempre nos arrependeremos e vocês se arrependeram rapidamente”, disse Juncker a um grupo de eurodeputados britânicos que começou a vaiá-lo durante essa passagem do discurso.   

Ele ainda propôs uma reunião no dia 30 de março de 2017, na Romênia, no dia seguinte à saída formal dos britânicos da União Europeia. (ANSA)