Itália pede condenação para policiais envolvidos no’caso Cucchi’

ROMA, 23 DEZ (ANSA) – O Ministério Público de Roma pediu nesta quinta-feira (23) uma condenação para oito policiais envolvidos no assassinato do geômetra Stefano Cucchi, ocorrido em 22 de outubro de 2009, enquanto ele estava sob custódia do Estado.   

O promotor Giovanni Musarò pediu penas de sete anos para o general Alessandro Casarsa; cinco anos e meio para Francesco Cavallo; cinco anos para Luciano Soligo e Luca De Cianni; quatro anos para Tiziano Testarmata; três anos e três meses para Francesco Di Sano; três anos para Lorenzo Sabatino; e um ano e um mês para Massimiliano Colombo Labriola.   

Todos os policiais são indiciados pelo ato de despistar, além dos crimes de falsificação, cumplicidade, omissão de denúncia e calúnia.   

O Ministério Público de Roma solicitou ainda a proibição perpétua de cargos públicos para Casarsa, Cavallo, De Cianni e Soligo e por cinco anos para Di Sano, Sabatino e Testarmata.   

Durante a acusação, que culminou com o pedido de oito sentenças para os carabineiros, Musarò disse que foi “um processo longo e difícil e todo um país foi levado em consideração, cerca de seis anos”.   

Nas duas audiências inteiramente dedicadas à sua intervenção, o promotor reconstruiu toda a história que começou em outubro de 2009, quando Cucchi morreu sete dias após sua prisão por drogas.   

Musarò sustentou que “a atividade de triagem foi teimosa, às vezes definida como obsessiva”.   

No início do ano, uma corte de apelação de Roma aumentou as penas dos policiais Alessio Di Bernardo e Raffaele D’Alessandro, ambos condenados pelo assassinato de Cucchi, de 12 para 13 anos de detenção pelo crime.   

A audiência ainda confirmou a pena de 2 anos e 6 meses de outro policial, Francesco Tedesco, por crime de falsidade e diminuiu em seis meses a pena de 4 anos e meio de Roberto Mandolini, que era o policial responsável pela delegacia que atuou no caso, também por falso testemunho.   

O caso – O geômetra de 31 anos foi abordado por uma patrulha da Arma dos Carabineiros em Roma no dia 15 de outubro de 2009 e foi flagrado com 20 gramas de haxixe. De lá, foi para a delegacia comandada por Mandolini e enviado para o presídio Regina Coeli, o maior da capital italiana.   

Poucos dias depois, Cucchi foi internado na ala de detentos do hospital Sandro Pertini, local onde faleceu no dia 22 daquele mês. Na autópsia, foi constatado que o homem de 1,76 metro de altura pesava apenas 37 quilos, indicando um estado de desnutrição – além do corpo apresentar diversos hematomas.   

No primeiro processo, todos os acusados foram absolvidos por falta de provas: seis médicos e três enfermeiros (acusados de abandono de incapaz) e três membros da Polícia Penitenciária (lesões agravadas e abuso de autoridade). Na denúncia, afirmava-se que os carcereiros usaram força excessiva contra o italiano e que os profissionais da saúde tinham deixado Cucchi morrer de fome.   

Porém, a Procuradoria de Roma abriu uma nova investigação em dezembro de 2015 contra carabineiros suspeitos de agressão pós-prisão e com a suspeita de que havia ocorrido “uma estratégia científica” para “atrapalhar a correta reconstrução dos fatos”. As penas, então, foram anuladas.   

Já em outubro de 2018, Tedesco mudou o seu depoimento e disse que Di Bernardo e D’Alessandro haviam espancando Cucchi ainda na delegacia e que ele tinha agido para parar com as agressões.   

O policial Tedesco foi condenado por falso testemunho, pois mudou o depoimento, tendo mentido no processo de 2015. Já Mandolini foi condenado pelo mesmo crime, mas por outra ação.   

Quando Cucchi foi preso, ele escreveu nos autos que o homem era “um sem-teto”.   

Musaró, por sua vez, explicou que “Stefano Cucchi foi levado para a prisão porque o marechal Mandolini escreveu na verbal de prisão que ele era um sem-teto. Mas, ele morava com os pais. Sem aquilo, talvez ele já teria sido mandado para a domiciliar” O “Caso Cucchi” se arrasta há anos e até virou um filme na Netflix (“Na Própria Pele”, 2018). Isso porque, desde o início, uma série de reviravoltas fez com que um processo chegasse a ser anulado e o veredicto tenha sido anunciado apenas em 2019.   

(ANSA)