ROMA, 13 OUT (ANSA) – O Ministério do Interior da Itália, chefiado por Matteo Salvini, ordenou a transferência de todos os migrantes que vivem nos centros de acolhimento de Riace, cidade da Calábria que se tornou modelo de integração de estrangeiros.   

Em uma circular, a pasta também cobrou da Prefeitura a comprovação de todas as despesas com acolhimento e bloqueou alguns pagamentos devido a supostas “anomalias” na documentação enviada pela gestão municipal. Riace ainda não recebeu recursos do Ministério do Interior em 2018.   

No início de outubro, o prefeito da cidade, Domenico “Mimmo” Lucano, foi colocado em regime de prisão domiciliar, por suspeita de ter facilitado casamentos forjados para garantir a permanência no país de migrantes em situação irregular.   

Atualmente, devido ao bloqueio de recursos, Riace arrisca ficar sem dinheiro para seus projetos de acolhimento, que fizeram renascer a economia local. Parte dos fundos enviados por Roma era repassada a cooperativas para financiar projetos de capacitação profissional e uma espécie de “bolsa trabalho” a aprendizes.   

O Ministério Público chegou a investigar Lucano por suspeita de irregularidades na gestão dos recursos para acolhimento, mas a Justiça não encontrou “hipóteses delituosas” referentes a esse aspecto do inquérito, apesar de ter citado a falta de “transparência” da Prefeitura.   

“Querem apenas nos destruir, mas nossos advogados já estão entrando com um recurso contra a decisão do Ministério do Interior”, declarou Lucano.   

Perfil – Riace é uma cidade de 2,3 mil habitantes situada na região da Calábria, o “bico da bota” que representa o mapa italiano. Ela é governada desde 2004 por Domenico Lucano, ativista conhecido internacionalmente por ajudar migrantes e refugiados.   

Seu empenho em defesa do acolhimento o fez entrar, em 2016, na lista dos 50 maiores “líderes” do mundo da revista “Fortune”. Em seus mandatos, ofereceu casas abandonadas – em um vilarejo que sofre com o esvaziamento demográfico – e treinamento profissional a migrantes, ajudando a recuperar a economia local.   

Uma das iniciativas promovidas por Lucano é uma moeda voltada exclusivamente a migrantes. O projeto surgiu alguns anos atrás e prevê a emissão de bônus pela Prefeitura para que estrangeiros comprem itens de primeira necessidade em lojas conveniadas. Nas cédulas, o prefeito mandou estampar ícones como Che Guevara e Martin Luther King. (ANSA)