ROMA, 19 AGO (ANSA) – Na tentativa de aliviar as tensões com o navio Open Arms, da ONG espanhola Proactiva, o ministro dos Transportes da Itália, Danilo Toninelli, ofereceu navios da Guarda Costeira italiana para transportar os 107 migrantes para qualquer porto espanhol indicado pelo governo espanhol. “Nós nos disponibilizamos com a Guarda Costeira para acompanhar o Open Arms na Espanha, para oferecer apoio técnico e transportar parte dos migrantes a bordo em um de nossos barcos para a viagem”, escreveu o político italiano em sua página no Facebook na noite desta segunda-feira (19).   

A oferta do governo italiano vem depois que a Espanha ofereceu o porto de Algeciras, julgado muito distante pela ONG, e o de Maiorca, para o desembarque dos migrantes. As ofertas, no entanto, foram recusadas pela entidade em decorrência da situação crítica e emergencial na embarcação, o que não possibilitaria enfrentar mais cinco dias no mar. “A ONG tem se recusado incrivelmente, com uma atitude que faz suspeitar que há má fé da parte deles”, acrescentou Toninelli em sua publicação, ressaltando que a Itália está disposta a levá-los ao porto ibérico. Apesar da decisão, o ministro dos Transportes condiciona a medida com o fato de a Espanha remover “imediatamente sua bandeira do navio da ONG”. Ontem (18), o governo da Espanha se ofereceu para receber os 107 imigrantes que ainda estão a bordo do navio Open Arms, que está à deriva há 18 dias no Mediterrâneo. Após a recusa, a Proactiva, por sua vez, fez duras críticas contra a oferta de levar os imigrantes para o arquipélago espanhol das Ilhas Baleares, a cerca de 1.000 km da ilha de Lampedusa. “Depois de 18 dias de estagnação, Itália e Espanha parecem ter chegado a um acordo, identificando a Maiorca como um porto de desembarque. Uma decisão que nos parece completamente incompreensível”, disse a Proactiva Open Arms em comunicado. Segundo a entidade, seu barco está a “800 metros das costas de Lampedusa” e os “Estados europeus estão pedindo a uma pequena ONG” que realize uma viagem de mais “três dias de navegação, em condições climáticas adversas”. Além disso, o chefe de missão da Open Arms na Itália, Riccardo Gatti, sugeriu que todos os 107 migrantes fossem transferidos de avião para a Espanha. “Para dar dignidade aos resgatados, eles podiam transferi-los para Catania, na Sicília, e daí levá-los para Madri. Alugar um Boeing para 200 pessoas tem um custo de 240 euros por passageiro”, disse.   

A decisão da ONG irritou ainda mais o ministro do Interior e vice-premier da Itália, Matteo Salvini, do partido nacionalista Liga Norte. “É inacreditável e inaceitável. Organizam cruzeiros turísticos e eles que decidem onde vão desembarcar? Eu não desistirei. A Itália não será mais o campo de refugiados da Europa”, afirmou.   

Desde que assumiu o governo italiano, em junho de 2018, Salvini colocou em prática uma política de restrição a imigrantes e ONGs que, diariamente, desembarcavam nos portos do sul da Itália. O político exige que outros países da Europa assumam a responsabilidade pelos imigrantes e participem de um sistema de divisão para acolher os náufragos resgatados no Mediterrâneo, a fim de aliviar a pressão sobre a Itália.   

Salvini chegou a emitir uma ordem na semana passada que proibia o navio Open Arms de entrar em águas italianas, a qual foi derrubada pela Justiça. Com isso, a embarcação se aproximou da ilha de Lampedusa, no sul do país, onde está atracada, mas sem realizar desembarques. A Open Arms tinha retirado do mar cerca de 150 pessoas e, agora, conta com 107 imigrantes a bordo.   

O restante deixou o barco para atendimento médico. O caso, além de provocar tensão na Itália, está gerando uma crise também na Espanha.   

Na semana passada, seis países europeus tinham se oferecido para receber parcialmente os imigrantes da Open Arms (França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal, Romênia e a própria Espanha). O governo da Itália, porém, disse que não recebeu nenhuma comunicação oficial sobre isso. (ANSA)