O ministro da Justiça do governo ultradireitista da Itália negou nesta sexta-feira (12/01) a extradição para a Argentina de um padre italiano acusado de assassinato e tortura durante a ditadura militar no país sul-americano (1976-1983).

O ministro Carlo Nordio alegou razões de saúde para reverter uma decisão anterior da principal corte criminal do país, que julgou em outubro em favor da extradição do padre Franco Reverberi, de 86 anos, que atuou como capelão do Exército argentino na província de Mendoza, em 1980.

Reverberi teria integrado um grupo que sequestrou e torturou opositores políticos em San Rafael. O italiano enfrenta acusações de auxílio e cumplicidade no assassinato do jovem José Guillermo Berón, de 22 anos, e de participar de uma série de sessões de tortura.

O ex-capelão fugiu do país em 2011 após o primeiro julgamento por crimes contra a humanidade em Mendoza. Relatos de sobreviventes e familiares das vítimas já indicavam sua responsabilidade nos crimes.

Sua extradição era aguardada pela Justiça argentina desde 2012, sendo que ele também era alvo de um mandado de prisão da Interpol. A lei italiana, porém, estabelece que o ministro da Justiça tem o poder de confirmar ou negar decisões da Justiça sobre extradições.

O negar a extradição de Reverberi, Nordio, argumentou que o padre tem problemas cardíacos, e que a possibilidade de ele jamais voltar à Itália poderia ser uma “fonte indevida de estresse”, segundo relatos de pessoas que acompanharam o caso.

Família da vítima pode pedir reabertura do caso

A partir de agora, caberá ao novo governo da Argentina, do presidente populista de direita Javier Milei, decidir se deve ou não recorrer da decisão do ministro Nordio em uma corte italiana, informou Jorge Ithurburu, que representa o grupo de defesa dos direitos humanos 24 de Março, que acompanhou o processo de Reverberi.

A família de José Guillermo Berón pode pedir que promotores italianos abram um caso contra Reverberi, como cidadão italiano investigado por assassinato e outros crimes na Argentina, disse Ithurburu. O nome do grupo ao qual ele pertence se refere à data em que ocorreu o golpe militar na Argentina, no ano de 1976.

“Justiça adiada, justiça negada. Don Reverberi não terá que responder à ninguém por seus crimes”, lamentou o porta voz da ONG de direitos humanos Anistia Internacional, Ricaro Noury.

Em torno de 30 mil pessoas desapareceram durante a ditadura militar argentina, que reprimiu com brutalidade os opositores do regime com sequestros, torturas, estupros e assassinatos.

Na Argentina, mais de mil pessoas foram condenadas por crimes contra a humanidade relacionados ao regime militar, desde o inicio dos processo em meados de 2000, depois de mais de uma década de anistia.