ROMA, 25 MAI (ANSA) – O Juiz de Audiência Preliminares (GUP) de Roma acatou nesta terça-feira (25) um pedido do Ministério Público da capital da Itália e indiciou quatro agentes dos serviços secretos do Egito pela morte do pesquisador italiano Giulio Regeni, sequestrado, torturado e assassinado no Cairo no início de 2016.   

Com a decisão do juiz Pierluigi Balestrieri, o julgamento dos egípcios foi marcado para o próximo dia 14 de outubro, no Tribunal de Primeira Instância de Roma.   

A expectativa é de que os suspeitos sejam julgados à revelia, depois que as autoridades italianas não conseguiram falar com eles ou encontrar seus endereços no Egito. Defensores públicos foram automaticamente nomeados para os quatro.   

Balestrieri afirmou que, dada a atenção dispensada ao caso na imprensa italiana e internacional, era impossível aos réus desconhecerem os processos judiciais contra eles, e ordenou o início do julgamento.   

“Demoramos 64 meses, mas a [decisão] de hoje é uma boa linha de chegada e um bom ponto de partida”, comemorou Alessandra Ballerini, advogada dos pais de Regeni.   

“Paola e Claudio costumam dizer que todos os direitos humanos foram violados sobre Giulio. A partir de hoje temos a esperança fundada de que pelo menos o direito à verdade não seja violado”, acrescentou.   

O general Tariq Sabir, Athar Kamel Mohamed Ibrahim, Uhsam Helmi e Magdi Ibrahim Abelal Sharif são acusados de sequestro qualificado, homicídio qualificado e lesões corporais qualificadas.   

O Caso – Regeni vivia no Cairo, capital do Egito, para preparar uma tese sobre sindicatos independentes para a Universidade de Cambridge, mas desapareceu no dia 25 de janeiro de 2016.   

Ele havia sido visto pela última vez em uma linha de metrô, e seu corpo só foi encontrado mais de uma semana depois, com evidentes sinais de tortura. O italiano frequentava organizações sindicais clandestinas e contrárias ao presidente Abdel Fattah al-Sisi, o que levantou a hipótese de crime político.   

Segundo a acusação, os quatro agentes secretos seguiam os passos de Regeni desde o fim de 2015 e o abordaram na noite de 25 de janeiro de 2016, no metrô do Cairo. Em seguida, teriam conduzido o pesquisador contra sua vontade para uma delegacia e, depois, para um edifício onde ele ficaria nove dias em cativeiro.   

O MP diz que Regeni foi “seviciado durante dias”, o que provocou “agudo sofrimento físico”, inclusive por meio de “objetos escaldantes, chutes, socos, lâminas e bastões”. Essas ações teriam causado “numerosas lesões traumáticas na cabeça, no rosto, no trato cérvico-dorsal e nos membros inferiores”.   

O torturador, de acordo com o Ministério Público, era Magdi Ibrahim Abdelal Sharif, também tido como autor material do homicídio. Uma testemunha citada no inquérito diz ter visto o italiano jogado no chão e algemado, com sinais de tortura no tórax.   

O inquérito em Roma é baseado principalmente em evidências coletadas no Cairo pela polícia italiana ou na análise de imagens de vídeo da estação de metrô onde Regeni desapareceu e tráfego de celulares na área. Várias testemunhas se apresentaram nos últimos meses para prestar depoimento, mas suas nacionalidades e identidades estão sendo mantidas em segredo pelas autoridades italianas para protegê-los. (ANSA)