07/11/2019 - 20:16
SÃO PAULO, 07 NOV (ANSA) – Por Lucas Rizzi – Os terremotos são cicatrizes na paisagem da Itália. Do curso do rio Pó desviado por um tremor de terra em 1570 à fachada do Coliseu desfigurada por cinco eventos sísmicos entre 442 e 1703, passando pelas ruínas de cidades que ainda lutam para se reconstruir, não é difícil encontrar na superfície os sinais dos destrutivos fenômenos subterrâneos de nosso planeta.
Calcula-se que, apenas no século 20, mais de 120 mil pessoas tenham morrido em terremotos no país, que fica sobre a junção das placas tectônicas africana e eurasiática; no século 21, já são cerca de 700 vítimas. Desde o início de 2019, a Itália foi sacudida por 14.228 abalos sísmicos, o que significa uma média de quase dois por hora, segundo dados do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (INGV).
A maioria desses terremotos foi imperceptível para as pessoas, porém 1.518 tiveram magnitude superior a 2.0 na escala Richter (quase cinco por dia), e 13 superaram a barreira dos 4.0 (pouco mais de um por mês).
O último deles foi registrado às 18h35 desta quinta-feira (7), na província de L’Aquila, já devastada por um tremor que deixou 309 mortos em abril de 2009. Com magnitude 4.4, o sismo não provocou danos nem fez vítimas, porém foi mais um lembrete de que, na Itália, o risco está sempre à espreita.
“Todo o território italiano é classificado como sísmico, a partir de um risco baixo a um risco mais alto”, disse, em entrevista à ANSA, o doutor em engenharia sísmica Enrico Mangoni, que deu uma palestra sobre o assunto no Circolo Italiano, em São Paulo, nesta quarta (6).
Segundo ele, as regiões de maior perigo são aquelas adjacentes à Cordilheira dos Apeninos, espécie de espinha dorsal que corta a Itália de norte a sul; os arredores de Nápoles, na parte meridional do país; e Friuli Veneza Giulia, no nordeste.
Cada uma delas viveu pelo menos uma grande tragédia nos últimos 50 anos. Em 1976, um terremoto de 6.4 atingiu Friuli Veneza Giulia e matou 989 pessoas. Quatro anos depois, um sismo de 6.9 durou intermináveis 90 segundos e tirou as vidas de 2,9 mil indivíduos no distrito geográfico de Irpinia, perto de Nápoles.
Já a área próxima aos Apeninos protagonizou as maiores tragédias sísmicas do século 21 na Itália. Além do terremoto de L’Aquila, que teve magnitude 6.3, um tremor de 6.0 em Amatrice, no centro do país, matou 299 pessoas e levou ao chão um dos vilarejos históricos mais belos da península.
O evento também deflagrou uma sequência sísmica na Itália Central que segue ativa até hoje e já custou mais de 330 vidas.
Segundo Mangoni, no entanto, o país está agora mais preparado para enfrentar eventuais terremotos.
“Em 2018, foi lançada uma nova revisão da norma para construções. Cada regra já está velha quando é lançada, mas é sempre uma evolução em relação à anterior”, disse. O grande problema do país na prevenção sísmica é justamente um de seus maiores ativos: o passado.
A Itália é repleta de construções antigas e cidades com centros históricos da era medieval que dificilmente resistiriam a abalos de grandes dimensões. Foi o caso de Amatrice. Os edifícios mais recentes sobreviveram ao tremor, porém o centro histórico foi completamente destruído.
“É preciso avançar no nível das construções, como no Japão. Mas para eles é mais simples, porque a maioria dos prédios são novos”, pondera Mangoni. (ANSA)