Itália inicia julgamento de egípcios por morte de Giulio Regeni

ROMA, 14 OUT (ANSA) – Começou nesta quinta-feira (14), em Roma, o julgamento em contumácia de quatro agentes dos serviços secretos do Egito acusados de participação na morte do pesquisador italiano Giulio Regeni, brutalmente assassinado no Cairo no início de 2016.   

O general Tariq Sabir e os coronéis Athar Kamel Mohamed Ibrahim, Uhsam Helmi e Magdi Ibrahim Abdelal Sharif respondem por sequestro qualificado, homicídio qualificado e lesões corporais qualificadas, mas não responderam às notificações da Justiça italiana.   

A primeira audiência contou com as presenças dos pais de Regeni, Irene e Claudio, e de sua irmã, Paola, bem como de advogados do Estado, uma vez que o governo italiano se inscreveu no processo como parte lesada.   

“Depois de cinco anos e meio de uma batalha cansativa, queremos um processo, mas que seja dentro das regras, estamos aqui para proteger a verdade”, afirmaram os advogados da família Regeni, Alessandra Bellerini e Francesco Romeo.   

Já o procurador-adjunto Sergio Colaiocco, que representa a acusação, afirmou na audiência que os quatro réus e “alguns de seus colegas” realizaram ações para “bloquear e atrasar as investigações e evitar que o processo acontecesse na Itália”.   

A legislação italiana impede o início de julgamentos quando não se tem certeza de que os acusados foram notificados, mas, neste caso, o tribunal levou em conta a relevância midiática do assunto e a ampla difusão dos nomes dos agentes.   

“Por que os réus não estão presentes neste tribunal? Eles não foram avisados ou fingem não saber?”, questionou Colaiocco.   

Regeni vivia no Cairo, capital do Egito, para preparar uma tese sobre sindicatos independentes para a Universidade de Cambridge, mas desapareceu no dia 25 de janeiro de 2016.   

Ele havia sido visto pela última vez em uma linha de metrô, e seu corpo só foi encontrado mais de uma semana depois, com evidentes sinais de tortura.   

O italiano frequentava organizações sindicais clandestinas e contrárias ao presidente Abdel Fattah al-Sisi, o que levantou a hipótese de crime político. O governo egípcio nunca colaborou com as investigações sobre o crime.   

Brutalidade – Segundo a acusação, os quatro agentes seguiam os passos de Regeni desde o fim de 2015 e o abordaram na noite de 25 de janeiro de 2016, no metrô do Cairo. Em seguida, teriam conduzido o pesquisador contra sua vontade para uma delegacia e, depois, para um edifício onde ele ficaria nove dias em cativeiro.   

O MP diz que Regeni foi “seviciado durante dias”, o que provocou “agudo sofrimento físico”, inclusive por meio de “objetos escaldantes, chutes, socos, lâminas e bastões”. Essas ações teriam causado “numerosas lesões traumáticas na cabeça, no rosto, no trato cérvico-dorsal e nos membros inferiores”.   

O torturador, de acordo com o Ministério Público, era Magdi Ibrahim Abdelal Sharif, também tido como autor material do homicídio. Uma testemunha citada no inquérito diz ter visto o italiano jogado no chão e algemado, com sinais de tortura no tórax.   

“Ele estava delirando e muito magro. Estava deitado no chão com o rosto para trás, algemado. Tinha marcas nas costas, consigo lembrar daquela cena mesmo tendo se passado anos. Eu o reconheci alguns dias depois pelas fotos nos jornais”, relatou a testemunha, que trabalhou durante 15 anos na sede da Segurança Nacional do Egito.   

Na audiência de abertura do processo, a advogada Bellerini lembrou que Regeni teve “ossos e dentes quebrados” e “letras inscritas em seu corpo”. “A mão o reconheceu pela ponta do nariz”, acrescentou. (ANSA).