A Itália decidiu condicionar o desembarque de migrantes resgatados no Mediterrâneo pelos navios da operação naval europeia Sophia a que sua acolhida seja compartilhada por outros Estados-membros – disseram autoridades europeias nesta sexta-feira (20).

“A Itália não quer ser o único país de desembarque dos migrantes resgatados no mar por suas próprias unidades navais”, declarou o ministro italiano das Relações Exteriores, Enzo Moavero Milanesi, em uma carta à chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini.

As implicações dessa decisão foram discutidas hoje, em Bruxelas, pelos embaixadores dos Estados-membros, e um grande número de países manifestou ao representante da Itália sua insatisfação frente ao que consideraram como uma forma de chantagem, disseram fontes europeias à AFP.

A Itália comanda a Operação Sophia, lançada em junho de 2015 após uma série de letais naufrágios no Mediterrâneo.

Seis navios de países da UE – Itália, França, Irlanda, Espanha, Eslovênia e Alemanha – estão envolvidos, atualmente, nessa missão encarregada de lutar contra o tráfico de pessoas e evitar os naufrágios no Mediterrâneo central entre Itália e a costa líbia.

Desde seu lançamento, a Operação Sophia permitiu socorrer no mar quase 44.000 pessoas, ou seja 10% dos resgates registrados ao longo de três anos, disse em julho seu comandante, o almirante italiano Enrico Credentino.

– Fechar os portos italianos –

O ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga, movimento de extrema direita, decidiu, porém, fechar os portos italianos aos navios das missões de resgate, após ter proibido o acesso de embarcações fretadas pelas ONGs.

Oficialmente, a Itália pediu para não ser mais o único país de desembarque identificado no âmbito da Operação Sophia, que termina no fim do ano.

Nesse sentido, o ministro pediu a revisão do mandato da Operação, e o primeiro-ministro Giuseppe Conte informou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, das condições impostas para os desembarques dos migrantes na Itália.

Em uma carta, Conte disse a Juncker que a Itália aceitará seu desembarque em seu território com a única condição de que outros países da UE aceitem assumir uma parte deles.

O governo populista italiano impôs aos outros membros da UE as condições já aplicadas no desembarque no fim de semana passado com 450 migrantes resgatados no mar e transportados em dois navios militares.

Essas embarcações puderam, enfim, acostar na Sicília em 14 e de 15 julho, depois do compromisso assumido por França, Alemanha, Espanha, Portugal e Malta de receber, cada um, cerca de 50 resgatados.

Em resposta a Conte, em carta obtida pela AFP, Juncker explicou que “essas soluções ‘ad hoc’ não poderiam ser duráveis no longo prazo”.

O chefe da Comissão aceitou, porém, continuar sua mediação para encontrar voluntários para uma distribuição em caso de emergência, até que se chegue a uma solução definitiva.

As saídas procedentes da África do Norte para a Itália diminuíram consideravelmente, e uma nova rota para a Espanha está sendo usada para as tentativas de travessia.