Localizado em Mineo, perto da Catânia (leste da Sicília), o ex-maior centro de acolhida de migrantes na Europa deve fechar as portas oficialmente nesta terça-feira (9), na presença de seu maior crítico, o ministro do Interior Matteo Salvini.

“Promessa mantida”, comemorou o homem forte do governo italiano uma semana antes, quando as últimas pessoas instaladas foram transferidas do centro de Mineo para uma outra megaestrutura na Calábria.

Mineo teve um pico de frequência em julho de 2014, com mais de 4.100 instalados, diminuindo sua população pouco a pouco. Com a chegada de Matteo Salvini ao Ministério do Interior, em junho de 2018, eles eram 2.500.

Massimiliano Terrasi, um psicólogo que trabalhava no centro desde outubro de 2011, sente-se desolado.

“As expectativas eram muito altas no começo do centro e nós crescemos profissionalmente. Foi uma experiência que poucas pessoas no mundo puderam ter”, descreveu.

“Bem administrado, poderia ter sido uma riqueza para o território e a compreensão de populações”, lamenta ele, deixando transparecer usa indignação diante de anos de trabalho brutalmente interrompidos, sem reconhecimento.

No começo, os imigrantes tinham assistência e viviam em condições sanitárias normais. Quando o número de presentes passou de 3.000, porém, as coisas começaram a desandar.

“Se falarmos do funcionamento final do centro, acho bom que seja fechado. Mas, se considerarmos como poderia ter sido, acho uma pena”, completa o psicólogo.

– Grande demais, rapidamente degradado

“Quando o centro começou, eu logo pensei que não era uma coisa boa”, critica mais duramente Sergio Mastrilli, enquanto bebe uma cerveja no bar de Mineo, localidade siciliana típica das proximidades.

“Não foi um sistema de acolhida baseado na integração, mas no número”, observa.

Estudante de direito, de 25 anos, ele se envolveu no Movimento Cinco Estrelas de Luigi di Maio, que divide o poder no país há 13 meses com a Liga (extrema direita) de Matteo Salvini.

“Mais de 4.000 pessoas com 85 etnias diferentes, quando a cidade de Mineo conta com cerca de 5.000 moradores. É inadministrável!”, insiste.

Sergio está convencido de que o problema deve ser resolvido em nível europeu e que “muitos imigrantes gostariam de permanecer em casa”, se pudessem.

O centro de acolhida foi instalado em uma antiga base militar onde viviam familiares de militares americanos estacionados na base vizinha de Sigonella.

O lugar tem ares de subúrbio americano com suas 400 pequenas casas amarelas e rosadas alinhadas. No fim de 2010, os Estados Unidos anunciaram que iriam rescindir o contrato de locação.

Além da preocupação dos moradores da região, a instalação do centro em uma estrutura dessas também causou inveja à população local mais carente.

Os estrangeiros também foram criticados por quebrarem o mercado dos trabalhadores temporários no momento da colheita de laranja, já que se dispunham a trabalhar sem serem registrados por 10 a 20 euros por dia.

O novo prefeito de Mineo, Giuseppe Mistretta, ameaçou entregar o cargo, se o governo federal não ajudasse a cidade a fazer uma transição.

“O fechamento de Mineo é o epílogo inevitável de uma grande ilusão”, descreveu Nello Musumeci, presidente da direita da região da Sicília.

Várias investigações criminais por corrupção estão em curso, envolvendo o ex-prefeito de Mineo e o ex-diretor do centro. Em janeiro, a polícia desmantelou uma célula da máfia nigeriana que operava dentro do centro, administrando tráfico de cocaína e de maconha, assim como uma rede de prostituição.