Itália eleva pena de policiais que mataram suspeito sob custódia

ROMA, 7 MAI (ANSA) – Uma corte de apelação de Roma aumentou nesta sexta-feira (7) as penas dos policiais Alessio Di Bernardo e Raffaele D’Alessandro, ambos condenados pelo assassinato do geômetra Stefano Cucchi, ocorrido em 22 de outubro de 2009, enquanto ele estava sob custódia do Estado. Agora, os dois precisarão cumprir 13 ao invés de 12 anos de detenção pelo crime.   

A audiência ainda confirmou a pena de 2 anos e 6 meses de outro policial, Francesco Tedesco, por crime de falsidade e diminuiu em seis meses a pena de 4 anos e meio de Roberto Mandolini, que era o policial responsável pela delegacia que atuou no caso, também por falso testemunho.   

“Os meus pensamentos vão para Stefano e para meus pais que hoje não estão aqui na audiência. É o caro preço que nós pagamos nesses anos”, disse a irmã de Cucchi, Ilaria, ao fim da sessão.   

O “Caso Cucchi” se arrasta há anos e até virou um filme na Netflix (“Na Própria Pele”, 2018). Isso porque, desde o início, uma série de reviravoltas fez com que um processo chegasse a ser anulado e o veredicto tenha sido anunciado apenas em 2019.   

O caso – O geômetra de 31 anos foi abordado por uma patrulha da Arma dos Carabineiros em Roma no dia 15 de outubro de 2009 e foi flagrado com 20 gramas de haxixe. De lá, foi para a delegacia comandada por Mandolini e enviado para o presídio Regina Coeli, o maior da capital italiana.   

Poucos dias depois, Cucchi foi internado na ala de detentos do hospital Sandro Pertini, local onde faleceu no dia 22 daquele mês. Na autópsia, foi constatado que o homem de 1,76 metro de altura pesava apenas 37 quilos, indicando um estado de desnutrição – além do corpo apresentar diversos hematomas.   

No primeiro processo, todos os acusados foram absolvidos por falta de provas: seis médicos e três enfermeiros (acusados de abandono de incapaz) e três membros da Polícia Penitenciária (lesões agravadas e abuso de autoridade). Na denúncia, afirmava-se que os carcereiros usaram força excessiva contra o italiano e que os profissionais da saúde tinham deixado Cucchi morrer de fome.   

Porém, a Procuradoria de Roma abriu uma nova investigação em dezembro de 2015 contra carabineiros suspeitos de agressão pós-prisão e com a suspeita de que havia ocorrido “uma estratégia científica” para “atrapalhar a correta reconstrução dos fatos”. As penas, então, foram anuladas.   

Já em outubro de 2018, Tedesco mudou o seu depoimento e disse que Di Bernardo e D’Alessandro haviam espancando Cucchi ainda na delegacia e que ele tinha agido para parar com as agressões.   

O policial Tedesco foi condenado por falso testemunho, pois mudou o depoimento, tendo mentido no processo de 2015. Já Mandolini foi condenado pelo mesmo crime, mas por outra ação.   

Quando Cucchi foi preso, ele escreveu nos autos que o homem era “um sem-teto”.   

“Stefano Cucchi foi levado para a prisão porque o marechal Mandolini escreveu na verbal de prisão que ele era um sem-teto.   

Mas, ele morava com os pais. Sem aquilo, talvez ele já teria sido mandado para a domiciliar e hoje não estaríamos aqui. Esse joguinho lhe custou a vida. O auto de prisão é o primeiro ato de desorientação desse caso porque os nomes de Tedesco, Di Bernardo e D’Alessandro não estão no documento”, explicou o procurador-substituto, Giovanni Musaró. (ANSA).