A América Latina é atualmente a região mais afetada pela demência no mundo, e as projeções indicam que a situação pode se agravar nas próximas décadas. No entanto, um estudo recente liderado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em colaboração com outras instituições, publicado no The Lancet Global Health, revela que mais da metade dos casos de demência na região pode ser evitada. Isso pode ser alcançado através do controle de 12 fatores de risco modificáveis.
Esses fatores incluem educação, perda auditiva, hipertensão, obesidade, tabagismo, depressão, isolamento social, sedentarismo, diabetes, consumo excessivo de álcool, poluição atmosférica e traumas na cabeça. O estudo analisou dados de saúde de sete países latino-americanos para entender como cada um se posiciona em relação a esses fatores.
Quais são os principais fatores de risco para a demência?
Os fatores de risco para a demência variam entre os países da América Latina. No Brasil, a educação e a hipertensão são os mais impactantes, enquanto no México, a depressão e a obesidade se destacam. Em Honduras, o tabagismo é o principal problema. Esses fatores contribuem significativamente para a perda de memória e raciocínio, e o estudo sugere que 54% dos casos de demência na região podem ser atribuídos a esses 12 fatores.
Entre os fatores mais influentes, a obesidade e o sedentarismo são responsáveis por 7% dos casos cada, seguidos pela depressão e tabagismo. A educação, que contribui com 3% dos casos, é um fator crucial, pois a formação educacional ajuda a criar uma reserva cognitiva que pode retardar o aparecimento dos sintomas de demência.
Como o estudo foi conduzido?
O estudo utilizou dados de grandes levantamentos epidemiológicos realizados nos países participantes ao longo da última década. Essas pesquisas forneceram uma amostra representativa da população, permitindo uma análise detalhada dos fatores de risco. O desafio principal foi padronizar os dados para garantir que todos os países fossem avaliados sob os mesmos critérios.
Os pesquisadores concluíram que a prevalência mais alta de alguns fatores de risco na América Latina, como o baixo nível de educação e problemas cardiovasculares, explica a diferença de 14 pontos percentuais na contribuição desses fatores para a demência em comparação com países mais ricos.

Quais são as implicações para políticas públicas?
Os resultados do estudo oferecem uma oportunidade para a implementação de políticas públicas eficazes na prevenção da demência. Os autores esperam que os governos utilizem essas informações para desenvolver estratégias personalizadas que abordem os fatores de risco mais significativos em cada país. Isso pode incluir a melhoria do acesso à educação, a promoção de estilos de vida saudáveis e a criação de ambientes que incentivem a atividade física.
No Brasil, por exemplo, a “Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Doença de Alzheimer e Outras Demências” foi sancionada em 2024, marcando um passo importante na abordagem do problema. No entanto, é necessário um investimento contínuo para garantir que essas políticas sejam efetivamente implementadas e não se tornem apenas documentos sem aplicação prática.
Como a demência pode ser prevenida?
A prevenção da demência requer uma abordagem abrangente que envolva tanto mudanças individuais quanto estruturais. É essencial criar ambientes que facilitem o controle dos fatores de risco, como a construção de espaços para atividades físicas e o acesso a cuidados de saúde adequados. Além disso, a educação contínua e o estímulo ao aprendizado ao longo da vida são fundamentais para fortalecer a reserva cognitiva e retardar o aparecimento dos sintomas de demência.
Em suma, a América Latina enfrenta um desafio significativo em relação à demência, mas também possui uma oportunidade única de reduzir drasticamente os casos através de intervenções bem planejadas e executadas. A implementação de políticas públicas eficazes pode fazer uma diferença substancial na saúde e bem-estar da população idosa na região.