Nos últimos anos, o mercado brasileiro tem testemunhado o surgimento de produtos que imitam itens tradicionais, mas que, na realidade, são misturas de ingredientes de qualidade inferior. Um exemplo recente que chamou a atenção é o “cafake”, uma mistura vendida como café, mas que contém impurezas e não é registrada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esse fenômeno destaca uma tendência crescente de produtos que “parecem, mas não são”, especialmente em tempos de inflação elevada.
O “cafake” é vendido em embalagens que se assemelham às de café tradicional, mas a um preço significativamente mais baixo. Essa prática tem levantado preocupações sobre a clareza das informações nos rótulos e a capacidade dos consumidores de identificar o que realmente estão comprando. Além disso, a proliferação desses produtos reflete uma estratégia econômica em resposta ao aumento dos preços dos alimentos, forçando muitos consumidores a optar por alternativas mais baratas.
Por que produtos similares ganham espaço no mercado?
A principal razão para a existência de produtos similares é econômica. Quando os preços dos itens básicos sobem, muitas famílias de baixa renda são obrigadas a buscar alternativas mais acessíveis. Essa situação é exacerbada em tempos de inflação alta, como a que foi observada em 2024, quando o preço do café aumentou significativamente. Produtos como bebidas lácteas, óleos compostos e cremes culinários são exemplos de itens que surgiram para atender a essa demanda por opções mais baratas.
Esses produtos são frequentemente desenvolvidos a partir de subprodutos ou ingredientes de menor custo. Por exemplo, o creme culinário é feito a partir do soro do leite, um subproduto da produção de queijo que, anteriormente, era descartado. A indústria alimentícia encontrou maneiras de aproveitar esses materiais, criando produtos que, embora mais baratos, possuem uma composição nutricional diferente dos originais.

Como identificar produtos que “Parecem, mas não são”?
Identificar produtos que imitam os tradicionais pode ser um desafio para os consumidores. A rotulagem muitas vezes não é clara, e as embalagens podem ser enganosamente semelhantes às dos produtos originais. Para evitar confusões, é importante prestar atenção à lista de ingredientes e à denominação de venda. Produtos ultraprocessados, por exemplo, geralmente contêm corantes, aromatizantes e edulcorantes, que podem ser indicativos de uma composição menos saudável.
Além disso, a ordem dos ingredientes na lista é um fator crucial. Os ingredientes são listados em ordem decrescente de quantidade, o que significa que os primeiros itens são os mais presentes no produto. Assim, se o açúcar ou a gordura vegetal aparecem no topo da lista, isso indica uma alta concentração desses componentes.
Os riscos e implicações para a saúde
Embora nem todos os produtos similares sejam prejudiciais à saúde, muitos deles são classificados como ultraprocessados, que estão associados a riscos aumentados de obesidade, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica. Esses produtos passam por várias etapas de processamento e geralmente contêm altos níveis de açúcares, sal e gorduras.
No caso específico do “cafake”, a falta de registro na Anvisa levanta preocupações sobre a segurança do consumo. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) destacou que a comercialização de novos alimentos requer autorização prévia para garantir que sejam seguros. Portanto, é essencial que os consumidores estejam atentos e informados sobre os produtos que escolhem.
O papel da educação do consumidor
A educação do consumidor é fundamental para lidar com a proliferação de produtos que “parecem, mas não são”. Informar-se sobre os rótulos e compreender a composição dos alimentos pode ajudar a evitar enganos e garantir escolhas mais saudáveis. Organizações como o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) desempenham um papel importante ao monitorar e denunciar práticas de rotulagem enganosas, promovendo uma maior transparência no mercado.
Em última análise, a conscientização e a educação são ferramentas poderosas para capacitar os consumidores a fazer escolhas informadas, especialmente em um cenário econômico desafiador. A atenção aos detalhes nos rótulos e a busca por informações confiáveis são passos essenciais para garantir que o que se consome é realmente o que se deseja.