Na era das redes sociais, um vídeo viral pode gerar debates intensos e reflexões aprofundadas. Recentemente, um vídeo no TikTok com a assistente comercial Evelyn Faoth, de 24 anos, reacendeu a discussão sobre os efeitos da educação positiva na criação dos filhos. O vídeo, que alcançou 2,4 milhões de visualizações em menos de um mês, relata os desafios enfrentados pela jovem mãe ao adotar essa abordagem com sua filha de 4 anos.
Evelyn conta que, ao dar mais poder de fala à filha, a menina passou a debater e rebater todas as instruções, algo que inicialmente parecia positivo, mas que causou conflitos tanto em casa quanto na escola. “Eu comecei a acompanhar conteúdos que falavam para dar voz à criança, validar os sentimentos dela, entender o momento de uma birra”, relata Evelyn. “Mas houve um efeito reverso.”
Educação Positiva: Benefícios e Desafios
A educação positiva é definida por muitos especialistas como o substituto da punição pela reflexão, permitindo que a criança chegue às suas próprias conclusões sobre comportamento e atitudes. Liubiana Araújo, presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), afirma que a técnica substitui o gritar e bater por uma atitude inteligente. “Autoridade com afeto é o melhor caminho, segundo as evidências científicas”, diz.
No entanto, a aplicação inadequada da educação positiva pode gerar mal-entendidos e problemas comportamentais. Evelyn percebeu que, ao flexibilizar regras em casa, sua filha não conseguia adaptar-se ao ambiente escolar onde as regras eram inflexíveis. Isso gerou um ponto de reflexão para a mãe, que começou a questionar a eficácia do método.
Quais São os Efeitos Colaterais da Educação Positiva?
Segundo Jane Nelsen, criadora da disciplina positiva em 1981, a educação positiva requer uma mudança de paradigma e treinamento aprofundado. Ela observa que muitos programas criados a partir da metodologia original carecem de uma base científica sólida e acabam confundindo os pais. “Isso está gerando mais confusão do que um caminho claro para os pais”, destaca Jane.
O Debate Sobre Limites
Gabriela Martins Ferro, 28 anos, é outra mãe que viralizou nas redes ao compartilhar sua experiência. Ela seguiu a metodologia à risca, oferecendo espaço de fala à sua filha de 7 anos, mas encontrou dificuldades na imposição de limites. “A questão do espaço de fala nos trouxe muitos conflitos e discussões”, nota Gabriela.
Segundo Gabriela, essa abordagem resultou em um estresse relacional, levando-a a buscar terapia para melhorar o comportamento e aceitação de limites da filha. “Hoje, sinto que tiramos algumas responsabilidades dela, começamos a fazer terapia, o que tem melhorado muito”, explica.
Educação Positiva: Revolução ou Confusão?
A professora Edna Ponciano, pesquisadora do Instituto de Psicologia da Uerj, observa que a principal preocupação em consultórios é a dificuldade em estabelecer limites. “Crianças sem limites são a consequência de diversos fatores, não apenas da educação positiva”, comenta Edna.
Para a especialista, a educação positiva pode servir como um mapa, mas cada relação entre pais e filhos é única e requer adaptações específicas. “A educação positiva pode ser um guia, mas o território muda a cada relação entre pais e filhos”, conclui Edna.
Reflexões Finais
Apesar das dificuldades encontradas, tanto Evelyn quanto Gabriela reconhecem os benefícios colhidos pela educação positiva. “Minha filha se tornou uma criança independente, sabe se expressar muito bem e quando faz algo que não deveria não tem medo de nos contar”, destaca Evelyn. Gabriela enfatiza a empatia desenvolvida em sua filha, afirmando que ela se tornou uma criança empática e respeitosa.
Assim, enquanto a educação positiva oferece ferramentas valiosas para o desenvolvimento emocional e social das crianças, sua aplicação deve ser cuidadosa e equilibrada para evitar mal-entendidos e problemas comportamentais. Pais e educadores são incentivados a buscar orientação profissional e adaptar a abordagem conforme as necessidades individuais das crianças e famílias. Afinal, cada criança é única e merece uma educação que respeite sua individualidade, ao mesmo tempo em que estabelece limites claros e consistentes.