Por muito tempo, a saúde mental foi considerada como algo isolado do cérebro. No entanto, pesquisas recentes revelam que condições psiquiátricas, neurológicas e psicossociais são muito mais complexas, incluindo até mesmo a microbiota intestinal. E mais surpreendentemente, os micro-organismos da boca também podem desempenhar um papel crucial.
A hipótese baseia-se no eixo intestino-cérebro, estudado há décadas. A comunicação bidirecional entre o cérebro e o intestino conecta os centros emocionais e cognitivos do cérebro com as funções intestinais. Pesquisas recentes têm demonstrado a importância da microbiota intestinal nesse processo.
Eixo Boca-Intestino-Cérebro: O Que é Isso?
Estudos com modelos animais e organoides apontam que alterações no eixo microbiota-intestino-cérebro estão ligadas a diversos distúrbios, inclusive doenças psiquiátricas como esquizofrenia, ansiedade e transtornos de humor.
Pesquisadores defendem que a microbiota oral também faz parte do eixo. A boca, sendo o início do sistema digestivo, é um ponto de entrada primário para micróbios. A cirurgiã-dentista Elisa Grillo Araújo investiga a associação entre a periodontite e a saúde geral, notando que inflamações na boca podem impactar o organismo como um todo.
Como a Perda de Dentes Afeta a Saúde Mental?
Segundo Satoshi Yamaguchi, da Universidade Tohoku no Japão, a perda de dentes e doenças na gengiva podem estar ligadas à doença de Alzheimer. A neurodegeneração deve afetar 74 milhões de pessoas até 2034, segundo a OMS. Estudos em Neurology encontraram relação entre falta de dentes e encolhimento do hipocampo, área do cérebro crucial para a memória.
- Estudo com 172 pessoas de 67 anos em média mostrou a importância de preservar a saúde dos dentes.
- Um dente a menos equivale a quase um ano de envelhecimento cerebral em casos de doença gengival leve.
- A dentição preservada em casos graves de periodontite pode aumentar o encolhimento do hipocampo.
Esses resultados enfatizam a necessidade de mais pesquisas para compreender melhor essa relação complexa.
Quais São os Impactos Psicossociais da Perda Dentária?
Diego Garcia Diniz, dentista do SUS e professor de odontologia, destaca que as deficiências de micronutrientes e a perda de dentes impactam condições mentais e neurológicas, como a demência. O estímulo mastigatório está associado ao desenvolvimento cognitivo; sua perda pode agravar a situação.
O impacto social é imenso. A falta de dentes pode levar a maiores índices de ansiedade, depressão e isolamento social. Esses fatores são importantes riscos para a doença de Alzheimer, influenciando diretamente a qualidade de vida e autoestima dos pacientes.
Saúde Bucal Como Prevenção de Transtornos Mentais?
Estudos da Universidade Médica e Dental de Tóquio mostram aumentos nos sintomas de depressão relacionados à perda de dentes. Pesquisas no Reino Unido ilustram que pessoas com histórico de doenças periodontais têm 37% mais chances de desenvolver transtornos mentais.
- Professores como Cristiane Alvez Paz de Carvalho afirmam que a perda dentária interfere na qualidade de vida.
- 55% dos idosos relatam que suas atividades diárias são afetadas pela falta de dentes.
- Políticas públicas, como o Brasil Sorridente, são essenciais para melhorar a saúde bucal e, consequentemente, a saúde mental dos indivíduos.
Cristiane Alvez Paz de Carvalho ressalta que a relação com a boca influencia o modo de vida e a aceitação social. Com o aumento da expectativa de vida, é crucial debater e implantar políticas públicas para a prevenção e promoção da saúde bucal.