Desde que começou a estudar em uma escola particular de Guarujá no início deste ano, a filha de Michael de Jesus, de apenas 4 anos, enfrentou uma situação alarmante. Apesar da empolgação inicial, a menina relatou aos pais que não era chamada para brincar com os colegas, uma situação que inicialmente foi tratada como um problema de adaptação à nova turma.
Com o passar das semanas, ficou claro que o problema era mais profundo. A menina, que é negra, contou que seus colegas faziam piadas sobre seu cabelo crespo. Diante dessa revelação, os pais recorreram à professora, que prometeu atenção ao caso. No entanto, a situação piorou; a menina passou a chorar e a ter o coração acelerado antes das aulas, confiando aos pais que os colegas não brincavam com ela por causa de sua cor de pele.
Discriminação Racial nas Escolas Brasileiras é Preocupante
O episódio de racismo em um Colégio, na Baixada Santista, não é uma ocorrência isolada. De acordo com uma pesquisa da Equidade.Info, 54% dos professores de educação básica reconhecem casos de discriminação racial entre estudantes.
Qual é a Percepção dos Profissionais de Educação Sobre o Racismo Escolar?
A pesquisa, realizada nos meses de abril e maio de 2024, envolveu 160 escolas de todas as regiões do país, entrevistando 2.889 alunos, 373 professores e 222 gestores. Os dados revelam uma disparidade significativa na percepção do racismo entre docentes brancos e negros: 48% dos professores brancos relataram ter presenciado casos de discriminação racial, enquanto entre os professores negros, esse número sobe para 56%.
Como as Escolas Estão Abordando a Questão do Racismo?
O estudo também indicou que 21% dos professores brancos não sabem como lidar com casos de racismo dentro da escola, em contraste com 9% dos professores negros. Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório Fundação Itaú, aponta que essa diferença sustenta a importância da representatividade dos docentes negros em ambiente escolar. Segundo Esmeralda, professores brancos muitas vezes não possuem a mesma sensibilidade para questões raciais.
Dos gestores entrevistados, 60,9% afirmam que suas escolas realizam formação ou discussões sobre letramento racial com os professores. Além disso, 59,5% informaram ter apoio das secretarias de educação para implementar ações de educação antirracista.
Como Proteger e Educar Crianças Contra o Racismo?
As escolas enfrentam dificuldades para lidar adequadamente com casos de racismo, frequentemente tratando esses incidentes como meros desentendimentos entre crianças. Macana destaca que, independentemente da idade, o racismo não deve ser tratado como bullying ou brincadeira. Ele precisa ser combatido seriamente desde cedo.
Michael de Jesus ressalta a negligência da escola em relação ao caso de sua filha, que não reconheceu a gravidade das ofensas racistas. Após exigir ações da escola, a direção se comprometeu a realizar reuniões com as famílias e rodas de conversa com os alunos. Ainda assim, a família optou por procurar outra escola para a menina.
As Medidas da Escola São Suficientes?
Em resposta, o Colégio declarou atuar “em favor da diversidade, do antirracismo e de ambientes acolhedores e empáticos”. A escola afirmou que denúncias são investigadas com cuidado e privacidade, e que os colaboradores têm treinamento semestral sobre o tema.
No entanto, a percepção de Michael de Jesus é de que a escola trata o problema como um conflito comum entre crianças, minimizando a seriedade do racismo. A atitude sem resposta adequada reflete um desafio maior que muitas escolas enfrentam ao abordar questões raciais.
Esta situação ressalta a necessidade urgente de políticas eficazes e ações concretas para combater o racismo nas escolas, garantindo que todas as crianças, independentemente de sua cor de pele, possam aprender e crescer em ambientes seguros e respeitosos.