O mercado automotivo global passou por transformações significativas nas últimas décadas com o surgimento de tecnologias sustentáveis. Entre as inovações, os veículos movidos a hidrogênio despontaram como uma promessa de transporte ecológico. No entanto, em 2024, observamos um declínio acentuado no interesse por esses veículos, a começar pela decisão da Toyota de reorientar suas estratégias de produção.
A Toyota, conhecida por seu pioneirismo em tecnologias automotivas, recentemente anunciou a redução de investimentos em carros de passeio movidos a hidrogênio. Esta decisão é uma resposta à baixa demanda e à crescente competitividade dos veículos elétricos (VEs), que ganharam popularidade devido aos avanços tecnológicos e à redução de custos.
Quais fatores dificultam a popularização dos carros a hidrogênio?
Apesar das vantagens ambientais, como a emissão zero de carbono e o reabastecimento rápido, os veículos movidos a hidrogênio enfrentam desafios que impedem sua ampla adoção. O principal obstáculo é o alto custo de produção, que se traduz em preços elevados para os consumidores, além da infraestrutura inadequada para distribuição de hidrogênio. Atualmente, poucos países possuem uma rede estabelecida de estações de reabastecimento, limitando a utilização dos veículos.
A Toyota lançou o Mirai em 2014, mas o volume de vendas não atingiu as expectativas. Nos últimos dez anos, apenas 27.500 unidades foram comercializadas mundialmente, um número ínfimo comparado à crescente frota de VEs. Além da Toyota, apenas Honda e Hyundai produziram veículos semelhantes; no entanto, a Honda já descontinuou o modelo Clarity, e a Hyundai enfrenta prejuízos significativos com seu Nexo SUV.
Por que os veículos elétricos superam os movidos a hidrogênio?
O avanço dos veículos elétricos se deve a fatores como custo de produção cada vez mais competitivo e um marco regulatório favorável em diversos países. As montadoras chinesas, por exemplo, fabricaram mais de 10 milhões de unidades de VEs em 2024, destacando-se como líderes em inovação e comercialização. Investimentos robustos em infraestrutura para recarga de veículos elétricos e o apoio governamental em várias nações também contribuem para a expansão desse mercado.
Embora os veículos a hidrogênio apresentem vantagens do ponto de vista da sustentabilidade, os desafios econômicos e logísticos permaneceram intransponíveis até o momento. Com os esforços concentrados em VEs, as montadoras têm preferido direcionar seus recursos para aprimorar essa tecnologia, que atualmente oferece uma relação custo-benefício mais atraente.
Qual é o futuro para veículos movidos a hidrogênio?
Mesmo com a descontinuação de carros de passeio, a Toyota não abandonou completamente a tecnologia de hidrogênio. A empresa ainda vê potencial no uso do hidrogênio em segmentos de veículos pesados, como caminhões e ônibus, que se beneficiam da autonomia e rapidez de reabastecimento proporcionadas pelas células de combustível de hidrogênio.
A colaboração com outras indústrias para inovar e testar protótipos, como uma van híbrida hidrogênio-elétrica projetada para a Austrália, exemplifica o compromisso da Toyota em explorar novos horizontes. O setor de transporte público e de logística pode abrir caminho para um uso mais extenso do hidrogênio, mitigando seu impacto ambiental.
Por que a aposta continua em veículos pesados movidos a hidrogênio?
Os veículos pesados demandam soluções que combinam alta autonomia e eficiência energética, características que o hidrogênio pode oferecer. Apesar dos desafios, a tecnologia de células de combustível ainda tem o potencial de descarbonizar o transporte de carga e pessoas. A Toyota prevê que este segmento desempenhará um papel crucial na transição energética, especialmente em regiões onde a infraestrutura elétrica é menos desenvolvida.
Além disso, governos e empresas continuam a colaborar em projetos para estabelecer facilidades de produção e distribuição de hidrogênio, vislumbrando uma cadeia de suprimentos mais robusta. O investimento conjunto de montadoras como a Isuzu Motors e o apoio de cidades interessadas em soluções sustentáveis, como Tóquio e Madri, indicam que ainda há um caminho promissor para o uso do hidrogênio no setor automotivo.