Rios secos, animais sofrendo e brigadistas lutando contra incêndios em diversos biomas: este é o retrato da maior seca que já atingiu o Brasil desde 1950. Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a gravidade do fenômeno já era prevista desde o início do ano, levando especialistas a alertarem sobre suas consequências devastadoras.
O impacto é amplo e severo. A fumaça gerada pelos incêndios causa problemas respiratórios em milhões de pessoas, enquanto a ausência de água força ribeirinhos a caminhar por leitos de rios secos. O fenômeno, que não é isolado, traz consigo uma série de desafios para a população e para o meio ambiente.
Seca e Incêndios: Uma Relação Destrutiva
Na semana passada, uma nota do Cemaden confirmou a gravidade da situação, assinalando que a seca atual é a mais extensiva, intensiva e duradoura desde 1950. “Olhando dados diferentes chegamos à mesma conclusão: é a seca mais extensa, a mais intensiva e a mais duradoura”, afirmou Ana Paula Cunha, pesquisadora especialista em secas no Cemaden.
A falta de chuvas também explica o aumento dos incêndios. Dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostram que, só neste ano, aproximadamente 21,7 milhões de hectares foram queimados na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal – um espaço maior que o estado do Paraná.
O tamanho da seca atual no Brasil?
A seca impacta cerca de 59% do território brasileiro. “Olhando para o gráfico, há algumas secas em destaque, como a de 1997 e 1998, que afetou basicamente a região Norte e parte da Nordeste, e foi decorrente de um El Niño”, pontuou Cunha. A seca de 2015 e 2016 também foi significativa, mas nada comparado ao que enfrentamos agora.
Indicadores e Previsões para o Futuro
Para entender a gravidade do fenômeno, pesquisadores utilizam o Índice de Precipitação Padronizado de Evapotranspiração (SPEI). Este indicador leva em conta a quantidade de chuva e a evapotranspiração. “Quanto mais negativo é o índice, menor é a precipitação e maior é a evapotranspiração. Ou seja, causa um balanço negativo de disponibilidade hídrica”, explicou a pesquisadora do Cemaden.
Mesmo com dados parciais, os valores do SPEI atuais já são extremamente negativos. A previsão é que a região Nordeste será a mais critica nos próximos meses, coincidindo com o início do ciclo agrícola da agricultura familiar, tornando a situação ainda mais delicada.
Expectativas de Melhoria com La Niña
As expectativas de melhora só surgem no início do próximo ano, com a formação do fenômeno La Niña, que poderá trazer mais chuvas para as regiões Norte e Nordeste. No entanto, a situação no Rio Grande do Sul pode se agravar, uma vez que o estado passará por uma nova seca após ter sofrido recentemente com uma inundação.
Como Evitar Queimadas e Manter o Meio Ambiente Equilibrado?
No curto prazo, é essencial evitar queimadas e controlar os incêndios. Para o médio e longo prazo, a especialista Isabel Belloni Schmidt, professora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), sugere um combate severo ao desmatamento. A destruição das florestas e do cerrado, além dos incêndios, agrava e muito a crise hídrica.
- Combate ao desmatamento
- Criação de políticas de manejo do fogo
- Reflorestamento de áreas degradadas
- Educação ambiental e conscientização
A Amazônia e o Cerrado desempenham papéis cruciais no equilíbrio hídrico do país. Destruir essas áreas significa menos água para diversas regiões, como Pantanal e o Nordeste. A prática de manejo integrado do fogo (MIF) é uma estratégia promissora para diminuir os impactos dos incêndios. Segundo Schmidt, isso envolve considerar o fogo como um elemento natural e humano na paisagem.
Políticas Públicas e Engajamento Social
Uma última sugestão da professora é colocar o meio ambiente como pauta nas eleições municipais. “No histórico brasileiro, governantes raramente colocam o meio ambiente como prioridade, mas passar por essa tragédia climática talvez coloque isso na agenda”, conclui.
Com mais de 50% do território brasileiro sofrendo com a seca, é mais do que essencial que medidas práticas e governamentais sejam tomadas para mitigar esta crise ambiental que já afeta a vida de milhões de brasileiros.