O câncer de pulmão, tradicionalmente associado ao tabagismo, está emergindo como uma preocupação crescente entre não fumantes, especialmente mulheres. Estudos recentes destacam um aumento significativo nos casos de adenocarcinoma, o tipo mais comum de câncer de pulmão em não fumantes, com uma prevalência maior entre as mulheres. Este fenômeno está sendo impulsionado por uma combinação de fatores ambientais, genéticos e hormonais.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, em 2022, foram diagnosticados aproximadamente 2,5 milhões de novos casos de câncer de pulmão globalmente. Este aumento é atribuído, em parte, à poluição do ar e a predisposições genéticas. As mulheres, em particular, parecem ser mais vulneráveis devido a fatores biológicos e ambientais que aumentam o risco de desenvolvimento da doença.
Quais são os fatores genéticos envolvidos?
Um dos principais fatores de risco genéticos para o câncer de pulmão em não fumantes são as mutações no gene EGFR. Este gene é crucial para a regulação do crescimento celular, e suas mutações podem levar a uma divisão celular descontrolada. Estudos mostram que essas mutações são mais comuns em mulheres asiáticas não fumantes, com uma prevalência de 50% dos casos.
Além do EGFR, mutações nos genes ALK e ROS1 também são observadas em uma pequena porcentagem de casos. Estas mutações são mais frequentes em mulheres jovens não fumantes, especialmente na Ásia. O gene TP53, responsável por suprimir tumores, também apresenta mutações mais comuns em mulheres, aumentando o risco de câncer de pulmão.
Como a poluição do ar afeta o risco de câncer?
A poluição do ar é um fator ambiental significativo que contribui para o câncer de pulmão em não fumantes. As partículas microscópicas, conhecidas como PM2,5, são particularmente prejudiciais. Elas podem desencadear mutações genéticas e são encontradas em níveis crescentes em muitas cidades ao redor do mundo.
As mulheres são especialmente suscetíveis aos efeitos da poluição devido a diferenças anatômicas e funcionais nos pulmões. Os pulmões femininos são menores e possuem vias aéreas mais estreitas, o que pode aumentar a retenção de partículas nocivas. Além disso, o estrogênio pode amplificar as respostas inflamatórias aos poluentes, aumentando o risco de danos pulmonares.

O papel dos hormônios e da inflamação crônica
Os hormônios desempenham um papel crucial no desenvolvimento do câncer de pulmão em mulheres. O estrogênio, encontrado no tecido pulmonar, pode promover o crescimento de tumores. Mulheres que fazem terapia de reposição hormonal (TRH) têm um risco menor de desenvolver a doença, sugerindo que os ciclos naturais de estrogênio podem oferecer alguma proteção.
A inflamação crônica também é um fator de risco significativo. Mulheres são mais propensas a desenvolver doenças autoimunes, que podem levar a inflamações persistentes nos pulmões. Esta inflamação pode causar danos ao DNA e promover o crescimento anormal das células, aumentando o risco de câncer.
Quais medidas podem ser tomadas para mitigar o risco?
Compreender os fatores que contribuem para o câncer de pulmão em não fumantes é essencial para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento. Melhorar a qualidade do ar, promover programas de rastreamento genético e estudar mais profundamente o papel dos hormônios e da inflamação são passos cruciais.
Além disso, a conscientização sobre os riscos associados à poluição do ar e a importância de ambientes internos saudáveis pode ajudar a reduzir a incidência da doença. Pesquisas contínuas são necessárias para explorar o impacto de fatores virais, como o HPV, no desenvolvimento do câncer de pulmão em mulheres.