Nos últimos anos, a relação entre alimentos Ultraprocessados e o consumo excessivo tem sido objeto de intenso debate. Estudos sugerem que esses alimentos podem estar associados ao ganho de peso e à obesidade, mas a razão pela qual as pessoas tendem a consumi-los em excesso ainda é um mistério. Recentemente, a ideia de que esses alimentos podem ser viciantes começou a ganhar força entre os pesquisadores.
Robert Califf, ex-comissário da FDA, sugeriu que alimentos ultraprocessados podem ativar sinapses cerebrais semelhantes às envolvidas no vício em drogas. Essa hipótese, antes rejeitada, agora está sendo considerada por mais cientistas. No entanto, a questão de como provar essa teoria permanece em aberto, especialmente após um estudo recente que trouxe mais perguntas do que respostas.
Os alimentos Ultraprocessados podem aumentar a dopamina no cérebro?
Uma das maneiras de estudar o vício é observar os níveis de dopamina no cérebro. A dopamina é um neurotransmissor que sinaliza ao corpo a necessidade de buscar recursos essenciais para a sobrevivência. Quando se consome alimentos, a dopamina é liberada, incentivando o consumo. A questão é se os alimentos ultraprocessados, ricos em gordura e açúcar, podem causar picos de dopamina semelhantes aos das drogas.
Um estudo recente dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA investigou essa possibilidade. Os pesquisadores mediram a resposta cerebral ao consumo de um milkshake ultraprocessado. Os resultados mostraram que, embora alguns participantes tivessem um aumento na dopamina, outros não apresentaram mudanças significativas. Isso levanta dúvidas sobre a capacidade dos alimentos ultraprocessados de causar picos de dopamina semelhantes aos das drogas.
Por que algumas pessoas são mais sensíveis aos alimentos Ultraprocessados?
O estudo também revelou que indivíduos que tiveram um aumento na dopamina após consumir o milkshake acharam a bebida mais prazerosa e desejavam mais dela. Esses “indivíduos responsivos” também consumiram mais alimentos ultraprocessados em um almoço subsequente. Isso sugere que algumas pessoas podem ser mais sensíveis aos efeitos dos alimentos ultraprocessados, semelhante ao que ocorre com drogas como nicotina e opioides.

Esses achados são consistentes com pesquisas anteriores sobre substâncias viciantes, onde indivíduos que apresentam picos de dopamina tendem a achar essas substâncias mais prazerosas e desejá-las mais intensamente. No entanto, a complexidade do vício em alimentos ainda não permite conclusões definitivas.
Os alimentos ultraprocessados são realmente viciantes?
A questão do vício em alimentos é complexa e controversa. Embora a comida deva ser naturalmente atraente para garantir a sobrevivência, o ambiente moderno, repleto de alimentos ultraprocessados, pode exacerbar esse mecanismo. Alguns pesquisadores hesitam em rotular esses alimentos como viciantes, argumentando que existem múltiplos fatores que contribuem para o consumo excessivo.
Por outro lado, há quem defenda que os alimentos ultraprocessados são projetados para serem viciantes, com sabores atrativos e altos níveis de gordura e açúcar. No entanto, medições cerebrais, como as usadas no estudo recente, não são suficientes para provar de forma definitiva se uma substância é viciante. A experiência pessoal das pessoas, que muitas vezes relatam dificuldades em reduzir o consumo desses alimentos, pode ser uma evidência mais convincente.
Em última análise, a discussão sobre o vício em alimentos ultraprocessados continua, com pesquisadores buscando entender melhor como esses alimentos afetam o comportamento humano e o cérebro. A complexidade do tema exige mais estudos para esclarecer a verdadeira natureza dessa relação.