Embora a cura definitiva para o HIV ainda não tenha sido alcançada, a comunidade científica está otimista com os avanços recentes no tratamento da doença. Durante a Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2025), realizada nos Estados Unidos, foram apresentados estudos que sugerem que tratamentos com anticorpos monoclonais podem oferecer proteção prolongada para os pacientes, semelhante a uma cura funcional.
Os resultados dos estudos RIO e FRESH, apresentados no evento, indicam que esses tratamentos podem permitir que pacientes fiquem sem a necessidade de terapia antirretroviral (TARV) diária por períodos significativos. Em alguns casos, 40% dos participantes conseguiram ficar mais de um ano sem precisar retomar a TARV, mantendo a carga viral sob controle.
Como funcionam os anticorpos monoclonais no tratamento do HIV?
Os anticorpos monoclonais são clones de células protetoras produzidas em laboratório, projetados para combater infecções com alta eficiência e baixos efeitos colaterais. No contexto do HIV, esses anticorpos atacam diferentes partes do envelope do vírus, impedindo sua infecção nas células. Isso é especialmente promissor, pois pode reduzir a necessidade de medicamentos diários, que são a base do tratamento atual.
O estudo RIO, conduzido no Reino Unido e na Dinamarca, testou a eficácia de dois anticorpos amplamente neutralizantes (bnAbs), 3BNC117 e 10-1074, em 68 participantes. Os resultados mostraram que uma parte significativa dos participantes conseguiu manter a carga viral baixa por até dois anos sem TARV.
Quais foram os resultados do estudo FRESH?
O estudo FRESH, realizado na África do Sul, focou em 20 mulheres jovens vivendo com HIV. Elas já estavam em tratamento com TARV há cerca de sete anos antes de participarem do estudo. Os anticorpos utilizados foram VRC07-523 e CAP256V2. Embora algumas participantes tenham precisado retomar a TARV antes da 48ª semana, quatro delas conseguiram manter a carga viral indetectável ou baixa por mais de 1,5 anos.

Esses resultados são significativos, especialmente em regiões com alta incidência de HIV, como a África do Sul. Eles demonstram o potencial dos bnAbs em oferecer uma alternativa viável ao tratamento diário, proporcionando uma qualidade de vida melhor para os pacientes.
Qual o impacto dos anticorpos monoclonais na busca pela cura do HIV?
Os estudos RIO e FRESH destacam a importância dos anticorpos amplamente neutralizantes na pesquisa pela cura do HIV. Embora ainda não representem uma cura definitiva, esses tratamentos oferecem esperança de uma abordagem mais eficaz e menos onerosa para o controle do vírus. O conceito de “efeito vacinal”, onde os bnAbs estimulam uma resposta imunológica mais robusta, é uma área promissora para futuras pesquisas.
Especialistas como o infectologista Alvaro Costa, do Hospital das Clínicas de São Paulo, ressaltam que, apesar de não haver uma cura imediata no horizonte, os avanços nos tratamentos com anticorpos são encorajadores. Eles podem levar a uma persistência da indetectabilidade do vírus por períodos prolongados, melhorando significativamente a vida das pessoas que vivem com HIV.