Montevidéu, a capital do Uruguai, é o cenário de um dos carnavais mais extensos e vibrantes do mundo. Durante 40 dias, a cidade se transforma em um palco de celebração, onde o som dos tambores ecoa pelas ruas, unindo tradições africanas e europeias. Este evento não é apenas uma festa, mas uma manifestação cultural rica em história e significado.
O carnaval de Montevidéu começa oficialmente em janeiro, quando os foliões tomam as ruas para participar das chamadas “llamadas”. Esses desfiles, semelhantes aos blocos de rua do Brasil, são uma competição amigável entre bairros, onde grupos conhecidos como comparsas exibem suas habilidades ao som do candombe, um estilo musical de percussão com raízes africanas.
O papel das murgas no Carnaval de Montevidéu
As murgas são uma expressão artística única do carnaval uruguaio. Com apresentações que acontecem nos teatros de Montevidéu, esses grupos de artistas misturam música, teatro e sátira política em performances que encantam o público. As murgas são conhecidas por suas roupas vibrantes e figurinos elaborados, que são considerados uma parte essencial do espetáculo.
Segundo a costureira Lúcia Silva, que há mais de uma década confecciona trajes para as murgas, o figurino é mais do que um simples adereço; ele é parte integrante da narrativa visual das apresentações. “Os trajes funcionam como uma espécie de cenário no espetáculo murga”, explica Lúcia, destacando a importância estética e simbólica das vestimentas.

Qual é a importância do candombe no Carnaval?
O candombe é a música tradicional do carnaval de Montevidéu, e sua presença é sentida em todos os aspectos da festa. Este estilo musical é tocado por três tipos de tambores: piano, repique e chico, que juntos criam uma melodia envolvente e hipnotizante. Durante as llamadas, cerca de 2,5 mil tambores são tocados simultaneamente, criando um som poderoso que é reconhecido como patrimônio imaterial da humanidade.
A origem do candombe remonta à época da escravização, quando as pessoas escravizadas se reuniam para tocar tambores como uma forma de resistência e preservação cultural. Hoje, ele continua a ser uma parte vital da identidade cultural uruguaia, simbolizando a resistência e a união de um povo.

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Murgas: arte e consciência social
Além de sua função artística, as murgas desempenham um papel importante na conscientização social. Com grupos que variam de 13 a 17 integrantes, as murgas utilizam o ritmo do candombe para criar sátiras políticas, abordando temas sociais e políticos de maneira crítica e bem-humorada. As apresentações são cuidadosamente planejadas, com meses de preparação para garantir que cada detalhe esteja perfeito.
A maquiadora Paloma González destaca que a preparação das murgas começa sempre pela ideia central do que se deseja comunicar. “A preparação começa sempre pela ideia do que queremos dizer ou do significado. Então a forma e o meio seguem de maneiras muito diferentes”, afirma Paloma, ressaltando a importância do conteúdo e da mensagem nas apresentações.