A capacidade de lembrar dos sonhos ao acordar, conhecida como “recordação dos sonhos”, é um fenômeno que intriga tanto cientistas quanto o público em geral. Enquanto algumas pessoas conseguem descrever seus sonhos com detalhes vívidos, outras têm dificuldade em lembrar qualquer aspecto do que sonharam. Recentemente, um estudo realizado pela Escola de Estudos Avançados de Lucca do IMT, em colaboração com a Universidade de Camerino, buscou entender os fatores que influenciam essa habilidade.
O estudo, publicado na Communications Psychology, analisou como características individuais e padrões de sono afetam a recordação dos sonhos. A pesquisa envolveu mais de 200 participantes, com idades entre 18 e 70 anos, que registraram seus sonhos diariamente durante 15 dias. Durante esse período, o sono e dados cognitivos dos participantes foram monitorados através de dispositivos vestíveis e testes psicométricos.
Quais fatores influenciam a recordação dos sonhos?
Os resultados do estudo indicaram que a recordação dos sonhos varia significativamente entre os indivíduos e é influenciada por múltiplos fatores. Pessoas com uma atitude positiva em relação aos sonhos e uma tendência a divagar mentalmente apresentaram maior probabilidade de lembrar de seus sonhos. Além disso, padrões de sono, como períodos mais longos de sono leve, também foram associados a uma maior recordação dos sonhos.
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Curiosamente, o estudo revelou que participantes mais jovens tendem a lembrar mais de seus sonhos em comparação com os mais velhos, que frequentemente experimentam “sonhos brancos” — a sensação de ter sonhado sem recordar detalhes. Isso sugere que mudanças relacionadas à idade podem afetar os processos de memória durante o sono.
Como a pandemia de Covid-19 afetou a recordação dos sonhos?
- Aumento na recordação dos sonhos: Houve um aumento notável nos relatos de pessoas lembrando dos seus sonhos durante a pandemia.
- Possíveis causas: As mudanças nos padrões de sono, os níveis elevados de estresse e ansiedade, e as alterações na rotina diária podem ter contribuído para essa mudança.
- Variações sazonais: A capacidade de lembrar dos sonhos pode variar ao longo do ano, com menor recordação no inverno em comparação com a primavera.
- Fatores ambientais: Fatores ambientais e ritmos circadianos podem influenciar a capacidade de recordar os sonhos.
Qual é o impacto das descobertas sobre a saúde mental?
As descobertas do estudo têm implicações significativas para a compreensão dos mecanismos por trás dos sonhos e seu papel na saúde mental. Segundo Giulio Bernardi, professor de psicologia geral na Escola IMT, a recordação dos sonhos reflete a interação entre atitudes pessoais, traços cognitivos e dinâmica do sono. Esses insights podem ajudar a explorar o papel dos sonhos na saúde mental e no estudo da consciência humana.
Valentina Elce, investigadora da Escola do IMT e primeira autora do estudo, destaca que os dados coletados servirão de referência para futuras comparações com populações clínicas. Isso permitirá avanços na pesquisa sobre alterações patológicas dos sonhos e seu potencial valor prognóstico e diagnóstico.