Um estudo recente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia revelou dados preocupantes sobre o câncer de ânus no Brasil. Entre 2015 e 2023, foram registradas 6.814 mortes em decorrência da doença. Este tipo de câncer, apesar de representar uma pequena fração dos tumores colorretais, tem mostrado um aumento significativo na sua incidência, crescendo a uma taxa de aproximadamente 4% ao ano.
O principal fator associado ao surgimento desse tipo de câncer é o papiloma vírus humano (HPV). Este vírus é amplamente conhecido por sua ligação com o câncer de colo de útero, mas também é responsável pelo desenvolvimento de tumores em outras regiões, como garganta, pênis, vagina e ânus. O levantamento identificou cerca de 38 mil internações devido ao câncer anal na última década.
Como o HPV Está Ligado ao Câncer de Ânus?
A infecção pelo HPV é a principal causa do câncer de ânus, com a transmissão ocorrendo predominantemente pela via sexual. O vírus é conhecido por provocar alterações celulares que podem culminar em diversos tipos de câncer. No Brasil, mais de 54% das mulheres e 41% dos homens sexualmente ativos são portadores do HPV, o que mostra a importância de se adotar medidas preventivas eficazes para conter a sua disseminação.
A relação entre o HPV e o câncer de ânus é complexa e amplamente estudada. A infecção pode permanecer assintomática durante anos, dificultando o diagnóstico precoce. Além disso, a vulnerabilidade aumentada de indivíduos com HIV à infecção persistente por HPV acentua a necessidade de estratégias de prevenção direcionadas a esses grupos.
Como anda a Prevenção e a Vacinação?
A prevenção do câncer de ânus começa com a prevenção da infecção por HPV. A principal medida preventiva é a vacinação. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina gratuitamente para meninas e meninos de 9 a 14 anos, além de grupos especiais como pessoas com HIV e vítimas de violência sexual. A vacinação ajuda a reduzir a prevalência do vírus e, consequentemente, dos tipos de câncer a ele associados.
Apesar do aumento nas doses aplicadas em meninos entre 2022 e 2023, a cobertura vacinal masculina ainda é inferior à feminina. É essencial aumentar a conscientização sobre a importância da vacinação em ambos os sexos, uma vez que o HPV pode ser transmitido por contato com mucosas infectadas, independentemente da penetração.
Como Identificar os Sinais do Câncer de Ânus?
Sintomas
- Sangramento anal, especialmente durante ou após as evacuações.
- Dor ou desconforto na região anal, que pode ser constante ou intermitente.
- Coceira persistente na região anal.
- Presença de nódulos ou protuberâncias na borda do ânus ou no canal anal.
- Mudanças nos hábitos intestinais, como diarreia ou prisão de ventre.
- Sensação de peso ou obstrução no reto.
- Secreção incomum pelo ânus.
- Incontinência fecal (dificuldade em controlar as fezes).
Importante
- Assintomático: O câncer de ânus pode não apresentar sintomas nas fases iniciais.
- Confusão com hemorroidas: Os sintomas podem ser facilmente confundidos com hemorroidas, o que pode atrasar o diagnóstico.
Quais os Fatores de Risco?
- Idade: O risco aumenta com o envelhecimento.
- Infecção pelo HPV: O papilomavírus humano (HPV) é o principal fator de risco.
- Histórico de doenças sexualmente transmissíveis (DST): Pessoas com histórico de DSTs têm maior risco.
- Fistulas anais: A presença de fístulas anais crônicas pode aumentar o risco.
- Tabagismo: Fumar aumenta o risco de diversos tipos de câncer, incluindo o de ânus.
- Imunossupressão: Pessoas com sistema imunológico enfraquecido (por exemplo, devido ao HIV/AIDS ou uso de medicamentos imunossupressores) têm maior risco.
- Múltiplos parceiros sexuais: Ter múltiplos parceiros sexuais aumenta o risco de contrair HPV e, consequentemente, o risco de câncer de ânus.
- Sexo anal: A prática de sexo anal aumenta o risco, especialmente em homens que fazem sexo com homens.
- Condições anais: Doenças inflamatórias intestinais (como doença de Crohn ou retocolite ulcerativa) e outras condições anais podem aumentar o risco.
O Tratamento do Câncer de Ânus: O que Esperar?
O tratamento do câncer de ânus depende do estágio da doença no momento do diagnóstico. Pode incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou a combinação de várias destas abordagens. A radioterapia, associada à quimioterapia, é comumente utilizada antes da cirurgia para aumentar a possibilidade de controle local do tumor, em um procedimento conhecido como tratamento neoadjuvante.
Para garantir a melhor abordagem para cada paciente, é fundamental avaliar o tamanho, a localização e a extensão do tumor. A detecção precoce, acompanhada de um tratamento adequado, pode melhorar significativamente as chances de sucesso no tratamento do câncer de ânus.