O declínio cognitivo em idosos é uma preocupação crescente, especialmente em países com populações envelhecendo rapidamente, como o Brasil. Estudos recentes publicados na revista The Lancet Global Health destacam a baixa escolaridade como um dos principais fatores de risco para o declínio cognitivo no contexto brasileiro, superando até mesmo doenças pré-existentes e fatores genéticos.
Eduardo Zimmer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), liderou uma pesquisa que aponta a conexão íntima entre o nível de escolaridade e as funções cognitivas na velhice. Segundo Zimmer, a educação recebida no início da vida desempenha um papel crucial na manutenção das capacidades cognitivas durante o envelhecimento.
Quais são os fatores de risco para o declínio cognitivo?
A pesquisa destacou que, além da escolaridade, outros fatores de risco significativos incluem sintomas de saúde mental, inatividade física, tabagismo, e isolamento social. Essas descobertas foram obtidas por meio de análise de dados de mais de 41 mil indivíduos de países da América Latina, com um foco específico nos dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil).
Os resultados indicam que, ao contrário de estudos realizados na América do Norte e na Europa, onde idade e sexo são citados como fatores primários, no Brasil, o cenário social e econômico impacta de maneira diferente. Isso ressalta a necessidade de se considerar o contexto local na formulação de estratégias de saúde pública.
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Por que a escolaridade tem tanta influência?
A escolaridade fomenta a construção da chamada “reserva cognitiva”, que são redes neurais alternativas que o cérebro pode utilizar para compensar danos. A educação formal estimula o cérebro, criando múltiplas sinapses, ou conexões, que facilitam a comunicação entre os neurônios. Assim, indivíduos com nível educacional superior tendem a ter mais meios alternativos para acessar informações, mesmo em face de lesões degenerativas.
Sem este estímulo educacional, um indivíduo possui caminhos mais limitados para a comunicação neural. Isso pode resultar em dificuldades para recuperar memórias ou processar informações, à medida que as conexões neuronais se deterioram com o avanço da idade.
Como mitigar o declínio cognitivo na população idosa?
Com cerca de 8,5% da população brasileira idosa enfrentando algum tipo de demência, há um reconhecimento crescente da importância de políticas públicas voltadas para a melhoria da educação desde a infância. As projeções do Ministério da Saúde indicam um aumento significativo desses casos até 2050, o que reforça a urgência de intervenções eficazes.
É fundamental que o Brasil invista não apenas em estratégias educacionais, mas também em iniciativas que promovam o bem-estar mental e social dos idosos. Programas de exercícios físicos, estímulos cognitivos contínuos e a promoção de um ambiente social saudável são medidas que podem ajudar a mitigar os efeitos do declínio cognitivo.
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O futuro da pesquisa cognitiva no Brasil
Apesar dos avanços, ainda há um caminho a percorrer na pesquisa cognitiva brasileira. Estudos personalizados que consideram as peculiaridades sociais e econômicas do país são cruciais para o desenvolvimento de medidas de saúde pública eficientes. A pesquisa liderada por Zimmer representa um passo importante na direção certa, ao iluminar caminhos específicos para a proteção da saúde cerebral dos brasileiros.
Com o aprofundamento do entendimento sobre o cérebro brasileiro, espera-se que mais estratégias possam ser implementadas para garantir uma longevidade saudável e ativa para a população idosa no país.