Em meio aos troféus e à nostalgia dos gramados, Dunga, ex-capitão e técnico da seleção brasileira, compartilha suas percepções sobre o cenário do futebol no Brasil. Durante o Troféu Mesa Redonda, um evento de prestígio da Gazeta, Dunga expressou suas reservas quanto às práticas e filosofias que atualmente predominam no esporte nacional. Segundo ele, a ideia de retornar para treinar um clube no país não faz parte de seus planos, dadas as discrepâncias entre suas ideologias e o que se aplica hoje em dia.
O foco de Dunga agora é sua família, mas o futebol ainda mexe com suas emoções. A discordância entre os conceitos que ele acredita, e as estratégias emergentes parecem inconciliáveis. Em um cenário onde palavras como “transição” têm grande destaque, ele questiona como times que dependem de jogadores mais experientes podem se readequar às exigências de velocidade e viagens intensas que a temporada demanda.
Por que a ‘Transição’ é um Desafio no Futebol Atual?
O termo “transição” tornou-se frequente quando se discute a evolução tática no futebol. No entanto, para Dunga, o uso indiscriminado deste conceito gera contradições evidentes. Ele destaca como é impraticável implementar essa transição em um time em que metade dos jogadores tem mais de 35 anos e enfrenta intensas rotinas de viagem ao ano. As alterações de esquema tático, aliadas à falta de tempo adequado para treinamentos, tornam o conceito de transição mais teórico do que prático.
A abordagem atual parece estar mais voltada para adotar modelos externos sem a devida adaptação à realidade do futebol brasileiro. Isso gera uma desconexão entre o que se teoriza e o que é verdadeiramente aplicável no campo, um tema que Dunga não hesita em criticar.
Quais Os Desafios do ‘Estudantismo’ no Futebol: Uma Perspectiva Crítica?
Dunga também manifesta sua opinião crítica sobre o “estudantismo” que permeia o desenvolvimento de técnicos no Brasil. Ele argumenta que o fato de passar um curto período na Europa, frequentemente menos que uma semana, não qualifica ninguém como um estudioso do futebol europeu. Cita exemplos de treinadores veteranos como Felipão, Zagallo e Parreira, que possuíam um entendimento profundo do jogo apesar de seu aprendizado menos formalizado.
Para Dunga, a tradução de conhecimentos europeus complexos sem adaptá-los ao contexto local pode resultar em iniciativas mal-sucedidas. Ele insinua que talvez o futebol brasileiro estivesse em um estágio mais avançado, caso a formação de treinadores locais tivesse sido mais valorizada e contextualizada para a realidade brasileira.
O Futuro do Futebol Brasileiro em Questão
Ao observar a evolução do futebol no Brasil, fica claro que o país enfrenta desafios significativos ao integrar novas filosofias com tradições consagradas. O discurso de Dunga ressoa como um chamado à reflexão sobre a direção que o futebol brasileiro está tomando. Será crucial para os stakeholders do esporte encontrar um equilíbrio que não apenas incorpore lições valiosas de outros contextos, mas que também respeite e valorize a identidade e as particularidades do futebol nacional.
Embora distante das linhas laterais como treinador, Dunga continua a ser uma voz influente que clama por um diálogo mais profundo sobre o futuro do esporte e a busca por soluções que se alinhem tanto às exigências modernas quanto às raízes futebolísticas do Brasil.