A dependência em apostas, também conhecida como transtorno do jogo, é uma condição que afeta milhares de pessoas em todo o mundo. Esse problema é caracterizado por um padrão repetitivo de apostas que persiste mesmo diante de prejuízos pessoais, financeiros ou sociais significativos. A dependência não afeta apenas o indivíduo, mas impacta também famílias e comunidades, gerando uma preocupação crescente entre profissionais de saúde mental.
No Brasil, o aumento da popularidade dos aplicativos de apostas, que inclusive patrocinam diversos clubes de futebol, intensificou os debates sobre as repercussões sociais e de saúde mental deste vício. A fácil acessibilidade a esses meios de jogo ampliou a exposição e, consequentemente, os riscos associados ao desenvolvimento do transtorno do jogo.
Como a Dependência em Apostas Afeta o Cérebro Humano?
O transtorno do jogo compartilha características neurais com outros vícios, como os relacionados ao consumo de substâncias psicoativas. O sistema límbico, uma complexa rede de estruturas cerebrais que integra o circuito de recompensa, desempenha um papel central nesse processo. Quando uma pessoa participa de atividades prazerosas, como comer ou socializar, o cérebro libera dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer.
Entretanto, comportamentos aditivos, como as apostas, levam a uma liberação excessiva de dopamina. Essa descarga desproporcional perverte o circuito de recompensa, levando a uma necessidade crescente de repetir o comportamento de alto risco para alcançar o mesmo nível de satisfação. Essa dinâmica altera a cognição do indivíduo, prejudicando sua capacidade de tomar decisões racionais.
Quais as Diferenças no Cérebro de um Apostador Compulsivo?
Além do sistema límbico, outras áreas cerebrais, como o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões, são afetadas no transtorno do jogo. Estudos indicam uma redução na conectividade de regiões como o córtex cingulado anterior e a amígdala, comprometendo a regulação emocional e a capacidade de resolução de problemas.
Essas alterações dificultam escolhas conscientes, como evitar apostas arriscadas ou controlar impulsos. A disponibilidade contínua de aplicativos de apostas no celular agrava esse cenário, prolongando o tempo de exposição e aumentando a frequência dos episódios de jogo.
Por Que Algumas Pessoas Desenvolvem Dependência e Outras Não?
A susceptibilidade ao transtorno do jogo varia conforme influências genéticas e ambientais. Fatores como a idade do primeiro contato com apostas, a presença de outros transtornos psiquiátricos e o tipo de jogo são determinantes. Estudos sugerem que a vivência de apostas antes dos 18 anos pode aumentar consideravelmente o risco de desenvolvimento de dependência.
Além disso, pessoas com histórico de depressão ou ansiedade são mais propensas a desenvolver o transtorno, usando o jogo como uma válvula de escape para lidar com emoções negativas. Contudo, independentemente dessas predisposições, a probabilidade de desenvolver o transtorno do jogo persiste como uma questão de saúde pública que carece de atenção adequada.
Como Pode Ser Tratado o Transtorno do Jogo?
O tratamento do transtorno do jogo deve ser multidisciplinar, abordando tanto o comportamento de jogo quanto quaisquer comorbidades associadas. A terapia cognitivo-comportamental é amplamente utilizada, ajudando os pacientes a reconhecer e modificar pensamentos e comportamentos autodestrutivos.
Há também opções farmacológicas, como medicamentos antagonistas opioides, que podem ser indicados para ajudar a controlar o impulso de apostar. Além disso, grupos de apoio, como os Jogadores Anônimos, oferecem suporte essencial para a recuperação contínua.
Com o avanço das apostas legalizadas, a demanda por tratamento tende a aumentar, e os serviços de saúde pública precisam ser devidamente equipados para atender essa necessidade crescente, prevenindo assim o impacto social negativo das apostas.