O filme “A Substância” tem gerado muitas discussões devido às suas ricas metáforas e simbolismo poderoso. Dirigido por Coralie Fargeat, a obra pode ser entendida como uma reinterpretação sombria dos contos de fadas clássicos, enfocando a feminilidade e o impacto dos ideais de beleza. Longe de ser uma história de romance tradicional, o filme oferece uma visão brutal da busca pela perfeição feminina.
A produção faz referência a icônicas princesas da Disney, mas de um jeito que distorce a realidade idealizada desses personagens. Através de seu universo visualmente hiper-realista, “A Substância” subverte temas de contos de fadas e retrata a realidade cruel do “felizes para sempre.”
Quais são as referências a princesas da Disney em “A Substância”?
No filme, Elisabeth, interpretada por Demi Moore, tem uma conexão óbvia com a Branca de Neve. Em várias cenas, o espelho do banheiro funciona como um portal entre a protagonista e uma outra versão de si mesma, semelhante ao espelho mágico de “Branca de Neve e os Sete Anões”. A busca incessante por beleza, refletida em sua comparação constante com Sue, interpretada por Margaret Qualley, lembra a insegurança da Rainha Má ao descobrir que sua beleza não é incomparável.
Sue, por outro lado, traz referências à Cinderela, vestindo um vestido azul que lembra o icônico traje da princesa no baile. Porém, o ponto crítico está na sensação contínua de que o tempo está se esgotando, simbolizado pela troca de corpos a cada sete dias e seus efeitos adversos. Essas referências desmistificam a artificialidade das narrativas de contos de fadas e apresentam um panorama onde a beleza e juventude são transitórias.
“A Substância” é um lembrete sombrio de que contos de fadas não são reais?
Sim, “A Substância” destaca-se por explorar a desconstrução das expectativas colocadas sobre as mulheres em contos de fadas. Elisabeth é apresentada como a “matriz,” uma personagem que vive a pressão e o descontentamento com seu próprio corpo à medida que envelhece. A narrativa ilustra que a rainha má, um dia, também foi uma princesa, perdida em seu reflexo ao se convencer de que o tempo lhe roubou a juventude.
A conclusão do filme reforça essa crítica através de uma linha impactante de Dennis Quaid, que diz a Sue que “meninas bonitas devem sempre sorrir.” Este comentário relembra as expectativas de feminilidade e padrões de beleza, persistentes nas histórias de princesa. “A Substância” desmistifica os contos de fadas, confirmando a ausência de príncipes encantados e finais felizes.
Considerações sobre o impacto visual e narrativo
A estética do filme contribui para a formação de um universo que é, ao mesmo tempo, familiar e inquietante, misturando glamour e medo em medidas iguais. A direção de Fargeat e a performance do elenco, particularmente de Moore e Qualley, são fundamentais para a efetividade do filme como uma alegoria sobre os perigos da obsessão pela perfeição física.
Com sua estreia no festival de Cannes e um lançamento mundial posterior, “A Substância” oferece não apenas uma crítica incisiva aos ideais de beleza, mas também uma narrativa envolvente que, embora ancorada no horror, desafia e intriga a audiência com sua interpretação atual dos contos de fadas.